sábado, 29 de setembro de 2018

Efeito teflon preserva votos a Bolsonaro



 Bolsonaro e o 'poste' do presidiário (PT) - REUTERS



Em 2014, após ser alvo de intensa campanha de TV que associava sua proposta de independência do Banco Central à possibilidade de famílias ficarem sem ter o que comer, Marina Silva derreteu velozmente. Nas últimas semanas, Bolsonaro foi alvo de um intenso bombardeio dos adversários — e manteve-se inabalável do alto dos mesmos 28%, na liderança da corrida eleitoral.

A ampla campanha de artistas, brasileiras e internacionais, nas redes em torno do bordão #Elenão não impactou o eleitor que já havia escolhido o capitão reformado. Tampouco teve efeito sobre os eleitores do deputado a profusão de propagandas de Geraldo Alckmin alardeando a possibilidade de volta da CPMF e o risco de Fernando Haddad vencer Bolsonaro no segundo turno.

Desqualificando moralmente os adversários e dizendo-se alvo de perseguição da imprensa, Bolsonaro parece ter conseguido desenvolver em seus eleitores o que no meio político se chama de “efeito teflon”: nenhuma informação negativa a seu respeito “cola” para quem já aderiu. Isso garante a Bolsonaro sua presença no segundo turno.

O problema do capitão reformado hoje está nos cerca de dois terços dos eleitores que não aderiram à sua campanha. Os números divulgados pelo Datafolha nesta sexta-feira praticamente repetem os que já haviam aparecido na pesquisa Ibope do início da semana. 

A notícia mais relevante de ambas é que, embora mantenha seu apoio inabalável, Bolsonaro viu sua rejeição crescer fortemente, atingindo 46%.

As duas pesquisas também mostram que o capitão — que nesta sexta-feira disse que não reconheceria um resultado diferente da vitória — perde no segundo turno, fora da margem de erro, para Alckmin, Ciro Gomes e até para o petista Fernando Haddad.

O ex-prefeito de São Paulo segue em rápido crescimento e ontem já tinha 22% das intenções de votos — o dobro de Ciro, que perdeu dois pontos, caindo para 11%, e quase empatou numericamente com Alckmin, que ganhou um e chegou a 10%.
Mantido o ritmo atual, não é improvável que Haddad saia do primeiro turno numericamente à frente de Bolsonaro. Só que com o crescimento da intenção de votos no petista, aumenta também sua rejeição, que já atinge 32%.

O segundo turno que se anuncia tende a ser uma disputa entre dois campos que inspiram mais rejeição que confiança. Dele, não sairá um vencedor, mas um sobrevivente. Ao que tudo indica, parte significativa da sociedade será obrigada a escolher alguém que não gosta para impedir outro, que ela desgosta ainda mais, de ganhar.

Paulo Celso Pereira, O Globo