sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Comissão do Senado aprova juiz de Trump, mas dissidente republicano pede investigação


Judge Brett Kavanaugh testifies before the Senate Judiciary Committee during his Supreme Court confirmation hearing in the Dirksen Senate Office Building on Capitol Hill in Washington, DC, U.S., September 27, 2018. Win McNamee/Pool via REUTERS - POOL / REUTERS


WASHINGTON — Mesmo com todas as acusações de agressão sexual a mulheres que pesam sobre o juiz Brett Kavanaugh, a Comissão de Justiça do Senado, de maioria republicana (11 contra 10 democratas), confirmou nesta sexta-feira sua nomeação para a Suprema Corte dos Estados Unidos, uma decisão que ainda deverá passar pelo Plenário para a aprovação final. A audiência teve um desfecho inesperado, quando o senador republicano Jeff Flake pediu que a votação no Plenário seja adiada por pelo menos uma semana para que o FBI possa investigar o caso.

Agora o nome de Kavanaugh será submetido ao Plenário do Senado, cuja maioria é republicana — são 51 republicanos e 49 democratas —, e tende a aprovar a indicação do juiz conservador, indicado pelo presidente Donald Trump. Mas os republicanos ainda podem ser surpreendidos por duas senadoras moderadas de seu partido, cujos votos são cruciais: Lisa Murkowski and Susan Collins.

O que está incerto, no entanto, é a data da votação, inicialmente prevista para amanhã. Na Casa Branca, Trump disse que deixará nas mãos do líder republicano no Senado Lindsey Graham a decisão sobre o adiamento ou não da votação em Plenário. O presidente também se referiu a Christine Ford, que depôs ante a Comissão de Justiça do Senado ontem, como "uma boa mulher" e classificou seu relato sobre as supostas agressões como "comovente".

VÍTIMAS DE ATAQUE SEXUAL PROTESTAM

Antes da votação, protestos veementes de duas vítimas de ataque sexual antecederam a reunião inicial da comissão, que foi abandonada por vários senadores democratas diante dos sinais de que Kavanaugh seria aprovado sem uma investição mais detalhada sobre as acusações de ataques sexuais.

Pela manhã, os republicanos não tinham a garantia dos votos necessários para levar o nome de Kavanaugh à apreciação de todo o Senado. Mas a indicação de que o republicano Jeff Flake, do Arizona, votaria a favor de Kavanaugh deu o sinal de que a maioria precisava.


O senador republicano Jeff Flake: acuado no elevador por duas mulheres, vítimas de agressão sexual - BRENDAN SMIALOWSKI / AFP

Logo depois o senador Flake foi acuado por duas mulheres num elevador do Congresso americano. Chorando, as mulheres — que afirmaram ser vítimas de agressões sexuais — criticaram duramente seu voto a favor de Kavanaugh, "alguém que foi acusado de tentar violar adolescentes”.

— Olhe para mim quando falo com você — exigiu uma das mulheres. — [Com seu voto] Você está me dizendo que o ataque sexual que sofri não tem nenhuma importância, que o que aconteceu comigo não importa, e que você vai entregar o poder a pessoas que fazem esse tipo de coisa.


O senador Flake ficou mudou diante das mulheres enquanto elas prendiam o elevador e tentavam convencê-lo, em vão.

PSICÓLOGA DETALHOU AGRESSÃO SOFRIDA

Na quinta-feira, a psicóloga e professora universitária Christine Blasey Ford depôs na Comissão sobre um ataque que sofreu numa festa nos anos 80, quando tinha 15 anos, e garantiu ter "100% de certeza" de que Kavanaugh era o agressor. "Eu achei que ele ia me violentar", disse ela ao relatar o ocorrido, "e quando ele me tapou a boca, não consegui respirar e pensei que fosse me matar acidentalmente".

— O ataque sexual mudou minha vida para sempre — afirmou Christine, que lembrou ter tido crises de pânico, claustrofobia e ansiedade toda vez que precisava evocar o dia do ataque em terapias que fez ao longo dos anos.


A psicóloga Christine Blasey Ford narra como foi a agressão sexual que sofreu aos 15 anos: "100% de certeza" de que foi Kavanaugh que a atacou - MELINA MARA / AFP

Outras quatro mulheres acusaram Kavanaugh de agressões sexuais recentemente, todas entre os anos 1980 e 1990.

O juiz negou com veemência todas as acusações, testemunhando depois de Christine, e foi enfático ao chamá-las de "ação orquestrada".

— Não serei intimidado nem me retirarei deste processo. Vocês se esforçaram muito. O seu esforço coordenado para destruir meu nome e minha família não me farão desistir. As ameaças de morte não vão me fazer desistir. Nunca vou desistir — disse Kavanaugh. — Este processo se tornou uma desgraça nacional.

O presidente Trump elogiou o desempenho de Kavanaugh na audiência.

CARTA PEDIU INVESTIGAÇÃO DO FBI

Mais cedo, a Ordem dos Advogados dos Estados Unidos ainda tentou evitar a votação enviando uma carta à comissão pedindo que adiasse o processo até que o FBI investigasse o caso.

"Os princípios básicos que norteiam o dever constitucional do Senado de aconselhar e decidir sobre a nomeação de juízes federais requerem nada menos que uma cuidadosa investigação das acusações e fatos pelo FBI", diz a carta, enviada pelo presidente da organização, Robert Carlson, ao presidente da comissão, o senador republicano Chuck Grassley, e à senadora democrada Dianne Feinstein, da liderança do partido.

"Cada indicação para nossa Suprema Corte é importante demais para que se apresse uma votação", prossegue a missiva. "Seguir adiante sem fazer uma investigação adicional terá um impacto duradouro na reputação do Senado e também vai afetar de forma negativa a confiança que os americanos devem ter na Suprema Corte".

REPUBLICANOS TÊM PRESSA

Os republicanos querem votar a nomeação de Kavanaugh o mais rápido possível, para acabar com as polêmicas e garantir maioria conservadora na Suprema Corte antes das eleições de novembro, quando o partido pode perder o controle do Congresso. Os democratas, por sua vez, querem adiar o máximo a votação.



Com O Globo e agências internacionais