Um pouco de sinceridade é um perigo. Muita sinceridade costuma ser fatal. O presidenciável do PSDB resolveu ser sincero como um candidato apavorado. Levou ao ar uma propaganda com o seguinte teor: “Pra vencer o PT e a sua turma no segundo turno, o candidato é Geraldo Alckmin, mesmo que você não simpatize tanto com ele.” O que o comercial afirma, com outras palavras, é o seguinte: “Se você detesta o PT e quer evitar a vitória de outro poste de Lula, vote em Alckmin, mesmo que o considere uma porcaria”. A isso foi reduzida a mensagem do PSDB.
Na frase anterior, a atriz contratada para apresentar o programa de Alckmin no horário eleitoral leu no teleprompter: “Se você não quer entregar o país pro PT ou pra alguém da turma dele, o seu candidato não pode ser o Bolsonaro, por mais que você simpatize com ele”. Noutro trecho, a peça reconhece que o eleitor que coloca Bolsonaro no topo das pesquisas já foi tucano: “Se você não quer que o PT volte, volte você pro 45. Esse é o único jeito de o Brasil não dar PT.”
O que assusta nessa marcha resoluta da campanha de Alckmin rumo à mistificação não é a sua crueza. Se a política brasileira ensinou alguma coisa nos últimos anos foi que não se deve esperar grandeza da marquetagem eleitoral. Assustadora mesmo é a falta de resistência do candidato à tática do vale-tudo.
Poder-se-ia repetir a velha cantilena segundo a qual o PSDB, banido do Planalto há 16 anos, não conseguiu elaborar um projeto alternativo. Mas o problema é ainda mais grave. Em meio a um cenário marcado pela paralisia econômica e por uma epidemia de corrupção, Alckmin não consegue oferecer esperança. O candidato tucano e seu partido são vistos como parte do problema, não da solução.
Alckmin vendeu a prataria da família para obter o tempo de propaganda dos partidos do centrão. E a característica fundamental da dificuldade de julgamento do eleitor é ter que assistir ao horário eleitoral da chapa encabeçada pelo PSDB durante arrastados minutos para chegar à conclusão de que Alckmin não tem nada a dizer, exceto que o eleitor anti-petista precisa pressionar o número 45 na urna eletrônica, “mesmo que não simpatize com ele.” Em vez de ressuscitar o candidato, esse tipo de campanha mata o PSDB. O partido sangra em cota-gotas no horário nobre.
Com Blog do Josias, UOL