Três vezes ex-prefeito do Rio e atual vereador, Cesar Maia, candidato do DEM ao Senado, faz campanha com Eduardo Paes, seu pupilo nos anos 90 e recente desafeto. "Combinamos de olhar para frente", diz ele. Leia a entrevista:
O senhor foi prefeito do Rio por três mandatos. E saiu do último governo (2008) muito desgastado. Exerce seu segundo mandato seguido de vereador da capital e tentou se eleger por duas vezes senador. O que o motiva ainda a disputar uma vaga no Senado?
Desgaste e aprovação fazem parte da circularidade da política. Hoje, a rua é muito confortável. Não tenho nenhuma dificuldade em qualquer lugar do estado. O tempo terminou eliminando as questões que levaram ao desgaste e maximizando as questões que levaram a me aplaudirem em minhas gestões. Em 2010 tinha, por exemplo, temas críticos como a construção da Cidade da Música (atual Cidade das Artes). A rua está me dando conforto. Isto é fundamental. Em 2016, a campanha para vereador foi prazerosa: tive 80 mil votos: o dobro de 2012 e fui o quarto mais votado. A motivação desta eleição é que que me empenhei muito nas campanhas anteriores e fui conhecer as funções do senador. O eleitor e os candidatos a senador não conhecem. E tenho experiência como deputado duas vezes, uma delas constituinte; e ex-prefeito.
O senhor lançou Eduardo Paes na política. E estavam rompidos há alguns anos. Agora se reaproximaram num acordo costurado por Rodrigo Maia, seu filho. Constrange fazer campanha com Paes?
Isso foi bem discutido, antes do Eduardo entrar para o Democratas. O Rodrigo foi intermediário. Ele colocou como preliminar que, se não desse para fazer uma campanha para frente, sem olhar para trás, não daria para trazer o Eduardo Paes. Pediu para pensar se poderíamos fazer campanha sem qualquer tipo de problema. Eu e o Eduardo conversamos inclusive sobre a campanha para prefeito de 2016. Na campanha do deputado Pedro Paulo (candidato apoiado por Paes, derrotado pelo prefeito Marcelo Crivella), ele não teve habilidade para me esquecer. Falamos: então vamos olhar para a frente. Eduardo foi um bom prefeito. Juntos temos 20 anos de prefeitura. Isso permite que troquemos experiências.
Mas é uma relação bem pessoal, como no passado, ou apenas politica?
A campanha tem o compromisso político de só tratarmos do futuro. A gente passa a conviver no automóvel, percursos longo, conversando... Eu diria que a gente vive uma situação de tranquilidade, normal. Por sua vez, o Eduardo é padrinho de uma filha do Rodrigo. Eles nunca brigaram.
Mas eu perguntei se a atual relação com o Eduardo Paes é a mesma do passado...
No passado ele era meu filho (no sentido político). Saiu do meu útero, ele deixou de ser meu filho: até prefeito se elegeu, duas vezes. Subiu de patamar. Hoje levamos as campanhas juntos. Ele conhece minhas qualidades e eu as dele.
Qual deve ser o papel de um senador que representa o Rio num momento em que o estado enfrenta uma crise e dificuldades financeiras?
Em momentos de crise, o senador tem um papel ainda mais importante como representante do estado e de seus municípios. Veja o que aconteceu na negociação para o Congresso aprovar o Regime de Recuperação. Na Câmara, o processo tramitou com a coordenação do Rodrigo. No Senado, os representantes do Rio ou ficaram contra ou omissos. Outro caso: há dias, o prefeito Marcelo Crivella pediu para que o Rodrigo o acompanhasse ao BNDES para discutir a renegociação da dívida da prefeitura do Rio. O Crivella não pediu a um senador do Rio para fazer esse contato. Eu quero que o próximo governador, que espero ser o Eduardo, encontre em mim uma figura de peso ao marcar uma audiência com alguma autoridade, para poder enfrentar os problemas do Estado. Que ainda continuam a ser graves.
Quais seriam suas propostas para colaborar para que o Rio saia da crise?
Uma das primeiras preocupações é com a segurança. O senador tem o poder de influenciar o presidente da República para que os recursos materiais e humanos dessa intervenção que termina no fim do ano permaneçam no estado com o novo governo. Sem resolver a segurança Pública, o estado vai continuar a patinar. Veja os problemas enfrentados em segurança entre os usuários do Arco Metropolitano: aquilo é uma insegurança completa. Outra questão é implantar uma ligação ferroviária do Porto de Açu para ajudar no escoamento de carga e no desenvolvimento da Região Norte Fluminense. É preciso acompanhar também o desenvolvimento das obras do Polo Petroquímico de Itaboraí que estão sendo retomadas. E garantir a conclusão das obras do BRT Transbrasil, sem contar o fortalecimento do turismo.
Há necessidade de renegociar as bases do Regime de Recuperação Fiscal?
Não há um problema financeiro premente. O próximo governador terá é de fazer contas. Existe a óbvia possibilidade que a economia brasileira vai voltar a crescer. E com isso, a economia do Rio vai junto. Mas claro que o primeiro ano vai ser difícil. A situação deverá melhorar a partir da metade do segundo ano. O governador Pezão está preparando uma transição muito favorável para o próximo governador. Iniciou um programa gigantesco de saneamento na Baixada.
Luiz Ernesto Magalhães, O Globo