A inesperada alta da Selic anunciada ontem à noite evoca aquela estória do jabuti que aparece do nada no alto de uma árvore. Como o jabuti não é alpinista, se ele está lá em cima é porque alguém o colocou lá.
Do ponto de vista estritamente técnico, a alta da Selic só teria duas explicações, ambas ruins para o País.
Primeiro: o juro pode ter subido porque, na opinião do BC, o quadro inflacionário está pior do que o mercado imagina.
Segundo: intuindo que o Governo Dilma 2.0 não vai mudar de atitude com relação ao gasto público — que gera inflação — o BC pode ter decidido que caberá a ele, apenas, a tarefa de combater a inflação com o instrumento que possui, a política monetária.
Se o BC realmente estiver telegrafando isso, vai ser um salve-se quem puder. Além de saber o nome do próximo Ministro da Fazenda, o maior desejo do mercado neste momento é de que a Presidente volte a levar a sério o superávit primário, um porco no qual colocaram muito batom e andam chamando de ‘gata’.
Qualquer falta de iniciativa nessa área vai azedar os mercados no curto prazo e levar a uma perda do grau de investimento do Brasil no ano que vem.
Mas, num governo onde juro é anátema e o BC é frequentemente acusado de subserviência, seria ingenuidade fazer apenas uma leitura técnica de um aperto monetário que vem quando ninguém espera.
A questão é, “Por que agora?”
Assim como no humor, o timing é tudo. Essa medida ortodoxa vem 72 horas depois de uma campanha que demonizou os banqueiros e tentou associar a tese de um BC independente com pessoas passando fome, e num momento em que o Governo tenta criar uma narrativa pró-mercado.
“Isso pode ser uma sinalização de que a temporada política acabou, e que agora é mãos à obra,” disse um gestor à coluna.
Mercado financeiro: um lugar onde se compra realismo e se vende esperança.