Ricardo Britto e Ricardo Della Coletta - Estadão Conteúdo
Segundo petistas, pasta, ocupada desde 2005 pelos peemedebistas, ganhou peso estratégico; legenda aliada quer manter posto
PT e PMDB abriram a disputa pelo controle do setor energético no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Peemedebistas do Senado querem manter o Ministério de Minas e Energia, já que o atual ministro, Edison Lobão, avisou que deixará o cargo para retomar seu mandato de senador pelo Maranhão.
O PT defende a saída de Lobão, especialmente após seu nome aparecer na delação premiada feita pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa. Além disso, querem que o ministério, ao qual estão subordinadas estatais como Petrobrás e Eletrobrás, componha um “núcleo duro” da Esplanada com diálogo direto com os responsáveis pela formulação da política econômica.
O argumento dos petistas é que a pasta ganhou peso estratégico devido à situação de crise hídrica que tem afetado o nível dos reservatórios e a geração de energia e aos problemas de caixa das distribuidoras. O partido também acredita que retirar o PMDB ajudaria a transmitir a imagem de que o governo está interessado em apurar as denúncias de corrupção na Petrobrás. O senador Walter Pinheiro (PT-BA), por exemplo, afirmou ao Estado que, no próximo governo, a pasta não pode ser vista como um “ministério qualquer”. “Precisa fazer parte do núcleo mais importante do governo.”
Nome forte. Não por acaso, um dos nomes cotados pelo partido para assumir o posto é o do governador da Bahia, Jaques Wagner, próximo à Dilma e fortalecido no PT por ter eleito seu candidato ao governo estadual ainda no 1.º turno. O chefe de gabinete de Dilma, Giles Azevedo, que foi secretário de Minas e Metalurgia quando a petista comandou o ministério, é outro cotado.
Para petistas, a saída de Lobão ainda atende a outros dois pontos. Um é a estratégia do Planalto de extinguir, no segundo mandato, os feudos partidários na Esplanada. O PMDB ocupa a pasta desde 2005.
Outro é aproveitar o enfraquecimento político do padrinho de Lobão, o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), que desistiu de concorrer este ano a um cargo eletivo após 60 anos e cujo grupo político perdeu força em seu Estado após a eleição de Flávio Dino (PCdoB) para o governo do Maranhão.
Mas o PMDB está decidido a lutar pela Pasta. O principal argumento a ser colocado na mesa de negociação é o de que Dilma precisará do partido, caso queira garantir o mesmo apoio político que teve no Senado em seu primeiro mandato. A situação, avaliam, é delicada para o governo por uma confluência de fatores políticos e econômicos. Com uma oposição mais qualificada a partir do próximo ano, com a presença, por exemplo, dos tucanos Aécio Neves (MG), José Serra (SP) e Tasso Jereissati (CE) e do democrata Ronaldo Caiado (GO), o governo precisa garantir apoio na Casa. E, como as condições da economia brasileira em 2015 não são das melhores, o respaldo no Senado para aprovação de medidas planejadas pelo Executivo, mesmo que impopulares, também é fundamental.
Entre os principais nomes do PMDB, são cogitados o líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE), ou o líder do governo na Casa, Eduardo Braga (AM), que é engenheiro elétrico. A bancada dos senadores quer manter os três ministérios da sua “cota” - além de Minas e Energia, a Previdência e o Turismo, este último, cota do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os deputados do partido, por sua vez, controlam a Agricultura. O ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, é uma indicação pessoal do vice-presidente da República, Michel Temer.
Desde o início do governo Dilma, em 2011, os peemedebistas se ressentem da perda de espaço no setor. A petista promoveu uma “limpeza” nas indicações do PMDB na área.