Josie Jeronimo - IstoE
Reforçados com a eleição de líderes experientes e estimulados pelo apoio popular recebido durante a disputa presidencial, os oposicionistas liderados por Aécio Neves prometem inaugurar no Congresso uma era de vigilância e fiscalização permanente às ações
O resultado das urnas mostra que o governo do PT terá pela frente uma oposição como jamais enfrentou desde que chegou ao planalto em 2003. Aécio Neves conseguiu unir o PSDB e deverá comandar no congresso uma frente que já tem o apoio de quase metade do eleitorado.
Passados os dias de descanso para se recuperar da acirrada disputa presidencial, o senador Aécio Neves (PSDB), que saiu das eleições bem maior do que entrou, voltará aos salões azuis como o líder de um aguerrido time político selecionado pelas urnas. O tucano promete ser o fiscal dos 51 milhões de brasileiros desgostosos com o governo e que o escolheram como alternativa de mudança.
“Fiquem tranquilos, pois estarei atento e vigilante para que cada compromisso da campanha seja agora cumprido, se não for cumprido, será denunciado”, afirmou Aécio, dois dias depois do resultado das eleições, em vídeo direcionado a seus eleitores. Na tentativa de entusiasmar seus apoiadores, Aécio repetiu uma frase cunhada pelo avô Tancredo Neves, ao ser eleito presidente pelo colégio eleitoral, após a rejeição da emenda constitucional que restabeleceria as eleições diretas no País: “Não vamos nos dispersar.”
NADA DE TRÉGUA
Comandada por Aécio Neves, a oposição, que terá como expoentes FHC,
o governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador
José Serra, não dará descanso ao governo do PT
Aécio deu o norte da nova oposição a Dilma no Congresso. Os demais discursos vieram na mesma toada. Alguns parlamentares, como o vice do candidato tucano, Aloysio Nunes Ferreira, elevaram ainda mais o tom. Em seu primeiro pronunciamento na tribuna do Senado após a eleição, Aloysio Nunes mostrou que o PSDB não dará trégua ao governo.
“Vamos discutir reforma política, sim, mas vamos primeiro concluir as investigações dos escândalos da Petrobras, para que não se diga depois que existe corrupção na política porque falta financiamento público para as campanhas. Não faço acordo. Não quero ser sócio de um governo falido e nem ser cúmplice de um governo corrupto”, bradou o senador tucano.
“A presidenta pediu prazo para anunciar medidas que sabemos necessárias e inadiáveis. No entanto, a demora coloca em risco ativos importantes do País, dentre elas a Petrobras. Algo está muito errado quando metade do país comemora a vitória de um candidato e a outra metade a lamenta profundamente”, fez coro o também senador tucano Paulo Bauer (PSDB-SC).
É da praxe política que Congresso e sociedade civil estabeleçam um período de transição com bandeiras brancas hasteadas, para dar ao presidente eleito ou reeleito tempo de se recompor da batalha eleitoral. Mas, além de não haver clima nem disposição para armistício, o fato de a oposição voltar mais forte e com lastro popular das urnas estimula o combate no dia a dia do Parlamento.
A infantaria é pesada. No próximo ano, o PSDB de Aécio contará com pelo menos outros seis partidos de oposição no Congresso. Juntos, PSDB, DEM, PPS, PV, PSC, SD e PSB terão 155 dos 513 deputados e 24 dos 81 senadores. Além disso, a oposição comemora a volta de políticos experientes. A partir de fevereiro de 2015, a bancada do PSDB será fortalecida pelos ex-governadores José Serra (SP), Antonio Anastasia (MG) e Tasso Jereissati (CE).
APOIO NAS RUAS
A oposição, liderada por Aécio Neves, saiu das eleições maior do que entrou
Serra chega ao Senado incensado pelo domínio tucano em São Paulo. Os eleitores do maior colégio eleitoral do país escolheram, em massa, o PSDB como opção para governá-lo. Foram 15,2 milhões de votos para Aécio e 8,4 milhões para Dilma. A presidente conquistou pouco mais de um terço do eleitorado do Estado. A dobradinha de Serra com Aloysio no Senado, sob o comando de Aécio, será a imagem da experiência administrativa e credibilidade.
Na Câmara, os tucanos contam com deputados que obtiveram ampla votação. Cinco dos dez deputados mais votados este ano são do PSDB, entre eles Carlos Sampaio (PSDB-SP), reeleito com mais de 295 mil votos. É dele a missão de acompanhar os desdobramentos da CPI da Petrobras, que pode constranger pesos pesados do PT e até a presidenta Dilma.
Ronaldo Caiado, liderança do DEM de Goiás, também chega para compor a linha de frente da oposição. Na Câmara, Caiado conduziu a liderança do DEM e transformou a Frente Parlamentar da Agropecuária em uma das mais fortes bancadas a ser enfrentada pelo governo. Caiado vai compor com o senador José Agripino (RN) o viés oposicionista do DEM. Desde a cassação de Demóstenes Torres, o senador e presidente dos Democratas ficou partidariamente isolado no Senado. A eleição do correligionário de Goiás pode ajudar a sigla a se recompor na próxima legislatura.
Outra novidade que promete incomodar o governo é o primeiro mandato de Romário (PSB-RJ) no Senado. No primeiro e no segundo turnos das eleições presidenciais, o senador eleito comandou o PSB como oposição, no Rio de Janeiro. Lideranças tucanas apostam no talento de Romário para ajudar a fustigar o governo na Casa. Apesar de novato no Congresso, ele mostrou que tem voto e sua popularidade pode ajudar o PSDB a se aproximar de uma faixa do eleitorado que ficou do lado do PT, principalmente no Rio de Janeiro.
Para aumentar seu poder de fogo, a oposição pretende atrair ainda parlamentares do PMDB que, não raro, dão dor de cabeça à presidenta Dilma, ao sabor de suas conveniências políticas. Insatisfeito com o apoio do ex-presidente Lula ao seu adversário na disputa ao governo do Rio Grande do Norte, Robinson Faria, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) já prepara uma “pauta bomba” para tirar o sossego de Dilma. Na lista de discussões está o orçamento impositivo e o aumento de repasses da União para municípios.
Ainda na Câmara, o líder do PMDB, Eduardo Cunha, promete continuar criando dificuldades para o Planalto. Cunha está cotado para suceder Henrique Alves na Casa e, antes mesmo do resultado eleitoral, disse que comporia com Aécio, caso ele fosse eleito.
No Senado, o também peemedebista Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) mexeu em um tema ainda mais espinhoso. Em discurso no plenário, fez um pronunciamento em defesa à liberdade de expressão no país, e acusou o PT de querer “implantar medidas de cunho bolivariano contra a imprensa, copiando o que de pior surgiu na América Latina, nas últimas décadas”, e a presidenta Dilma Rousseff de mostrar uma “postura autoritária” e “falta de apreço pelas críticas e questionamentos”.
Jarbas sugeriu que o Senado exija dos futuros ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) “claro compromisso contra qualquer tipo de censura à imprensa” e manifestou a preocupação com o fato de que, ao final de 2018, o partido de Dilma terá indicado 18 integrantes da Corte – oito pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dez pela atual presidenta. É a oposição mostrando sua nova cara.