sexta-feira, 31 de outubro de 2014

‘A hora é essa’, por Vlady Oliver


Com Blog Augusto Nunes - Veja


Não sei se os aqui presentes se dão conta de que a maior vitória de Aécio Neves foi contra o seu próprio partido. O que está ocorrendo no Brasil é histórico. Histórico porque fura a cortina de fumaça que antecede a cortina de ferro que tentam nos impor na marreta por aqui. Para ganhar as eleições, petistas e bolivarianos tiveram de mostrar suas caras e suas armas químicas. A sociedade, de modo geral, parece não ter gostado nada do que viu. Já é consensual que a oposição não soube se opor durante todo esse tempo. Sou mais cético. A oposição não quis se opor, por comungar da mesma cartilha vigarista, só que numa escala diferente.
Na visão dos “meio socialistas”, gastar um mandato inteiro consertando as vigarices dos irmãozinhos de Gramsci é uma pauta e tanto para manter o país entretido. Fica claro que o discurso oposicionista tinha que ser mais forte, mais coeso e monolítico, além de menos marqueteiro e propositivo. Essas firulas não projetam um candidato senão nos parcos momentos que antecedem uma eleição. Muitos aqui estão lembrando acertadamente que José Serra, Geraldo Alckmin e mesmo FHC não deram combate à bandidagem aqui instalada, deixando o dever de casa para oposicionistas mais puro sangue como os nobres leitores deste espaço de contendas.
O PSDB nunca quis esse papel. Sabia que bater de frente na cumbuca petista era dar bala pra bandido. Sabia que suas malas seriam confrontadas com as malas deles. Os tucanos queriam distância desse confronto. Para mim, a esclerose múltipla anda fazendo baixas dos dois lados das trincheiras e a geração desses meliantes já se locupletou o suficiente para ser apeada do poder e devolver o que tungou de nossos bolsos combalidos. Não sei como será a oposição quando Aécio Neves reassumir seu posto no Senado. O que sei é que faltam canais de comunicação com a turba indignada.
A internet e as redes sociais podem desempenhar um papel decisivo para implementar um diálogo realmente frutífero com o novo público-alvo. Faltam canais legítimos e informação honesta, sem relativismos. Falta explicar o bolivarianismo, como afirmei aqui inúmeras vezes. Isso teria fornecido ao eleitor as peças que faltam neste quebra-cabeças para entender por que os bandidos de lá são mais perigosos que os de cá. Para cada prato de comida que sumia na propaganda do PT, uma ambulância em Havana deveria ser acionada para mostrar que tipo de sociedade andam querendo nos impor. Faltou perspectiva histórica na parada. Eu diria que faltou enredo nestas cenas desconexas.
Cabe à oposição, de agora em diante, explicar direitinho o que significam democracia direta, conselhos participativos, petrolão ou controle social da mídia. Vou mais longe; não adianta acreditar que a malha de comunicação disponível no país vai reverberar informações que não interessam aos jecas de turno. Basta ver o que dizem os canais e noticiosos por aí. Será necessário a criação e a manutenção de programas elucidativos para a patuleia. Será necessário um comitê de campanha permanente. Por sorte da famigerada classe média, a internet já propicia a base tecnológica necessária para a construção desses veículos sem custos estratosféricos. O que falta é conteúdo.
Vamos esperar que o grande vigarista comece a campanha dele para se eternizar no poder a partir de 2018? Ou vamos criar alternativas imediatamente? Este é o ponto. Se a velha guarda tucana deliberar sobre isto, tão cedo não teremos oposição no horizonte. Caso Aécio se imponha como agenda, não pode esperar ser convidado pela platinada para fritar ovos em público e opinar no Amor e Sexo. Será necessário começar fritando os ovos dessa quadrilha. Sem contemplação. Petrolão nos cornos da cretina. Impeachment. Denúncias. Denúncias. Denúncias. Até a casa cair. Lugar de bandido é na cadeia. Isso nunca ficou tão claro para um contingente tão expressivo de pagantes. A hora é essa. Não vamos desistir de desratizar o Brasil.