O Globo
Nenhuma autoridade brasileira, é claro e sabido, terá a cara de pau de alegar que as prisões brasileiras são, por exemplo, semelhantes às suecas ou suíças
O processo do mensalão foi, reconhecidamente, uma das não muito frequentes vitórias da Justiça brasileira contra os chamados bandidos de colarinho branco. Mais de 20 deles foram condenados pelos feios crimes de corrupção ativa ou passiva, peculato e/ou lavagem de dinheiro.
Foi, é bom lembrar, um dos tristes e não raros escândalos de nossa crônica política. Por outro lado, promotores e juízes produziram um belo exemplo de que, diferentemente do que se dizia num passado não muito distante, as cadeias brasileiras não existem apenas para pretos e pobres.
Por um segundo outro lado, menos de um ano depois das condenações, somos obrigados a constatar que a permanência dos condenados em suas celas nem sempre corresponde à extensão das penas fixadas pelos tribunais. Seis dos mensaleiros punidos com penas de cadeia nela não estão.
Um deles, Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil, fugira para a Itália ao ser condenado. Chegou a ser preso pela Justiça italiana, que recentemente mudou de ideia: libertou-o e negou um pedido de extradição dos tribunais brasileiros. O motivo — ou pretexto — foi a justificada má fama do sistema penal brasileiro. Os advogados de Pizzolato mostraram no tribunal fotos de uma penitenciária do Maranhão com cenas de tortura e decapitação de presos.
Nenhuma autoridade brasileira, é claro e sabido, terá a cara de pau de alegar que as prisões brasileiras são, por exemplo, semelhantes às suecas ou suíças. Na verdade, elas são tão desumanas como, por exemplo, aquelas que ainda existem nas regiões mais atrasadas do sul dos Estados Unidos.
Enfim, como diriam os sábios do óbvio, cada país tem as celas e os salões que merece.