Fernanda Krakovics e Simone Iglesias - O Globo
Em nova composição, Dilma tem mais demandas do que cargos a oferecer
Com o xadrez da reforma ministerial que será feita pela presidente Dilma Rousseff ainda não montado, pelo menos uma coisa é praticamente certa: dificilmente ela conseguirá satisfazer o PT e os partidos aliados, mesmo contando com 39 ministérios. Há mais demandas do que cargos disponíveis. A petista sofre ainda pressão do empresariado e do mercado financeiro, que jogaram contra sua reeleição, e gostariam de ter nomes nos ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento que significassem mudanças das políticas econômica e industrial.
O PT, incluindo as bancadas da Câmara e do Senado, quer ser ouvido na composição da nova equipe. Petistas que acompanharam de perto a presidente durante a campanha dizem que, apesar de durona, ela “tremeu nas bases” diante do risco de derrota e agora o PT, que acha que tem crédito na vitória, vai reivindicar seus interesses no governo. Além do cabo de guerra entre os nove partidos que compõem a coalizão e das disputas internas nas siglas, há ainda as rixas locais. Depois de ser derrotado pelo PT para o governo do Ceará, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, por exemplo, não está nada feliz com a perspectiva de ver seu adversário local, o governador Cid Gomes (PROS) se tornar ministro da Educação.
— Vai ser a queda e o coice — diz um peemedebista sobre a situação de Eunício.
DESAFIO DE EVITAR 'MINISTÉRIO DE DERROTADOS'
Também a rondar Dilma está uma fila de políticos que perderam as eleições, ávidos para serem incorporados ao governo, mas a presidente não deve montar um ministério de derrotados, na avaliação dos próprios aliados. O PT deve fazer reuniões na próxima semana para discutir os nomes que apresentará à presidente, contemplando as diferentes tendências do partido. A Democracia Socialista (DS), por exemplo, ocupa o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) desde 2003, mas agora seu representante no governo, Miguel Rossetto, uns dos mais próximos de Dilma, está cotado para ser deslocado para a Secretaria Geral da Presidência, que faz a articulação com os movimentos sociais.
Os integrantes da DS vão discutir se aceitam trocar o Desenvolvimento Agrário por um ministério menor, sem Orçamento para executar, ou se vão considerar a eventual ida de Rossetto para a Secretaria Geral como da cota pessoal de Dilma. A equação no PMDB também passa pelo equilíbrio interno, no caso, o atendimento das bancadas da Câmara e do Senado, com seus respectivos caciques, além dos interesses do próprio vice-presidente Michel Temer. Esse último tem em sua cota o ministro Moreira Franco (Aviação Civil) e gostaria de emplacar também o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS).
Com exceção deste ano, Padilha sempre apoiou o PSDB nas eleições presidenciais, inclusive José Serra contra Dilma em 2010. Mas neste ano ele integrou a coordenação da campanha à reeleição e teria se redimido, na opinião de peemedebistas. Objeto de desejo de pelo menos três legendas, PMDB, PSD e PP, é o Ministério das Cidades. Ele é atraente por ter um bom orçamento e reunir os principais programas do governo voltado aos municípios, como saneamento, habitação e mobilidade urbana.
— É o lugar onde ele melhor pode trabalhar — disse um pessedista, que afirmouque o partido espera manter com Afif Domingos no Ministério da Micro e Pequena Empresa.No PSD, a expectativa é que para esta pasta seja indicado o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.
No PP, o presidente nacional do partido, senador Ciro Nogueira, é candidatíssimo ao mesmo posto. O ex-ministro das Cidades e deputado Agnaldo Ribeiro também pensa em voltar.
— Ciro só não será ministro se respingar algum problema nele — disse um progressista.
No PDT, a ideia desta vez é sair do Ministério do Trabalho. O partido avalia que a pasta foi sendo esvaziada ao longo dos anos, perdendo atribuições para outros órgãos do governo. Com isso, deixou de ser atraente. Os deputados pedetistas, no entanto, querem outro posto no governo.
O PR quer indicar novo nome para o ministério dos Transportes. Caso a presidente Dilma concorde com a substituição na pasta — o atual ministro Paulo Sérgio Passos é considerado da cota da petista —, há pelo menos quatro nomes falados. Um deles é o do ex-governador do Rio Anthony Garotinho, derrotado na disputa para o Palácio Guanabara. Ele agrada tanto ao partido quanto à presidente Dilma, por quem Garotinho trabalhou no estado durante a campanha. Os deputados Milton Monti (SP), Antonio Carlos Rodrigues (SP) e Luciano Castro (RR), mais ligados ao assunto da pasta, também são bem cotados para assumir o ministério.
Com relação ao Ministério da Cultura, dois nomes apareceram nos últimos dias. O ex-presidente José Sarney (PMDB) vem dizendo em eventos públicos que recebeu convite para assumir a pasta e que já aceitou o cargo. Não há confirmação por parte do governo nem de seu partido. O secretário estadual de Cultura de São Paulo, Juca Ferreira, é um dos nomes mais cotados. Além de ter sido ministro de Lula e de ir com frequência ao instituto do ex-presidente, ele serviu de ponte entre a campanha pela reeleição de Dilma e os movimentos culturais de maior destaque em Rio e São Paulo. (Colaboraram: Cristina Tartáguila e Letícia Fernandes).