quarta-feira, 30 de abril de 2014

Pane elétrica na Refinaria de Duque de Caxias e Petrobras será autuada por emissão de poluentes

Refinaria decidiu queimar químicos cancerígenos para reduzir pressão em equipamentos


  • Clarice Spitz - O Globo
     
    A fumaça que sai da Reduc já pode ser vista da zona sul da cidade Foto: Leitor Marcos Estrella
    A fumaça que sai da Reduc já pode ser vista da zona sul da cidade Leitor Marcos Estrella



    A queima de gases e líquidos na atmosfera depois de uma pane elétrica na Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), da Petrobras, gerou uma extensa fumaça negra que cobriu Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Magé, na Baixada Fluminense, nesta quarta-feira. A queima foi uma medida de segurança para evitar sobrecarga de pressão nos equipamentos depois que um problema de energia parou as operações às 5h45m.

    O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que vai autuar amanhã a Petrobras por emissão de poluentes na atmosfera, mas assegurou que não houve danos à saúde da população no entorno da Reduc. A produção da refinaria, de cerca de 240 mil barris de petróleo por dia — mais de 10% da capacidade de refino brasileira —, foi interrompida. A Petrobras não informou quando a produção será retomada.

    Foram queimados benzeno, substância comprovadamente cancerígena, xileno e tolueno, também tóxicos e com potencial cancerígeno. Segundo sindicalistas, a pane ocorreu quando a termelétrica a gás Leonel Brizola, ao lado da Reduc, fazia manutenção e interrompeu o fornecimento de energia elétrica e de vapor para a refinaria, numa operação que já estava programada.
    O Inea mandou duas equipes para o local para avaliar as condições na refinaria e monitorar a qualidade do ar. Eles constataram que houve falta do vapor que é usado na queima (nas tochas), o que gerou monóxido de carbono, nocivo à saúde. Mas o clima ajudou. A inversão térmica isolou os gases em uma camada de ar mais elevada.

    — Foi sorte ter acontecido no inverno, quando há inversão térmica. Os gases foram emitidos a 100 metros de altura e ficaram confinados a uma camada de 300 metros, isso criou um tampão — explicou a gerente de qualidade do Inea, Mariana Palagano.

    Ela disse que o padrão aceitável de exposição do monóxido de carbono é de 35 partes por milhão (PPM) em uma hora e que, em razão do isolamento térmico, não houve registro da substância nas estações de qualidade de ar na região. Segundo José Quirino Matos, do Inea, a quantidade de substâncias queimadas foi “muito grande”, e a falta de vapor nessa queima produziu monóxido de carbono, de elevado nível tóxico.

    De acordo com o presidente do Sindicato de Petroleiros de Duque de Caxias, Simão Zanardi, a produção só deverá ser retomada por completo em três dias. A Petrobras não divulgou o prejuízo estimado nem a previsão de quando a refinaria voltará a produzir.

    “Apesar da fumaça gerada durante a ocorrência, todas as ações foram tomadas para que não houvesse impacto à segurança ou à saúde dos trabalhadores e da população, bem como foi garantida a integridade das instalações. Os órgãos de controle foram comunicados sobre o evento, sendo feita avaliação local pelo órgão ambiental”, afirmou a companhia em nota.

    Em janeiro, houve incêndio

    Em janeiro, a produção da unidade de coque da Reduc foi interrompida após um incêndio. Zanardi disse que o sindicato vem cobrando da Petrobras uma solução para os problemas de manutenção. Segundo ele, se a parada de emergência tivesse ocorrido à noite, a situação teria sido crítica em razão da falta de lanternas e de sistema no break. Na última segunda-feira, faltou luz na área administrativa.
    O ambientalista David Zee, professor da Uerj afirma que os gases são perigosos:

    — Não há dúvida que será preciso rever procedimentos e protocolos de segurança — afirma.

    Benzeno, xileno e tolueno, em exposição prolongada, além de câncer, podem afetar o desenvolvimento do feto. Nas intoxicações agudas, pode haver problemas no sistema nervoso central, surdez, encefalopatia — , mas somente em concentrações muito altas, acima de 600 PPM, segundo o engenheiro químico da Fundacentro, Walter Pedreira.

    * Colaborou Cássia Almeida


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