quarta-feira, 30 de abril de 2014

"Destruição criadora", por Luiz Roberto Nascimento Silva

O Globo

Inovação seria para Schumpeter o parâmetro fundamental para o futuro da economia de mercado

 
O austríaco Joseph Schumpeter é certamente o economista mais importante da primeira metade do século XX depois de Keynes. Suas ideias são extremamente atuais. Ele sempre insistiu que a economia não poderia ser estudada ou entendida sem sua interseção com o processo evolutivo da história.

Uma das suas maiores contribuições foi a introdução do conceito de destruição criadora como elemento essencial do processo capitalista. Para ele, o capitalismo com seus benefícios e suas mazelas só poderia ser compreendido a partir de dentro de suas estruturas, na sua dinâmica incessante pela qual o antigo é substituído pelo novo. Nas suas palavras: “Esse processo de destruição criadora é básico para se entender o capitalismo. É dele que se constitui o capitalismo e a ele se deve se adaptar toda empresa capitalista para sobreviver.”

Schumpeter atribuiu enorme importância aos novos bens de consumo, aos novos métodos de produção ou transporte, aos novos mercados e novas formas de organização industrial criadas pela empresa capitalista. O salto tecnológico, a inovação, seria para ele o parâmetro fundamental para o futuro da economia de mercado. Enquanto os economistas clássicos detinham-se na concorrência dos preços, ele insistia numa superioridade decisiva pela qualidade ou pelo custo. Essa substituição do antigo pelo novo “numa eterna tempestade de destruição criadora” é que era essencial para o empreendedorismo e para o capitalismo, para ele indissociáveis.

Talvez o setor de tecnologia e comunicação seja a maior prova do acerto do diagnóstico schumpeteriano. Para acompanharmos o ritmo e os números das recentes aquisições nos Estados Unidos listamos: a Microsoft comprou o Skype por US$ 8,5 bilhões. O Google comprou o YouTube por US$ 1,6 bilhão. Yahoo comprou o Tumbir por US$ 1,1 bilhão. O Google comprou a Motorola por US$ 12,5 bilhões. Facebook comprou Instagram por US$ 1 bilhão. A Microsoft adquiriu a Nokia por US$ 7,1 bilhões no fim de 2013, e o Facebook a WhatsApp por US$ 19 bilhões este ano.

Claro está que diversas dessas aquisições foram concretizadas com parte em dinheiro e a maior parte por troca de ações. Não importa. É permanente mudança. Tudo sem intervenção direta do Estado seja na aquisição, seja na venda, mesmo quando feita com prejuízo, como ocorreu quando o Google revendeu a Motorola para Lenovo com uma perda de US$ 9,5 bilhões. Em nenhum desses negócios se privatizou o lucro ou se socializou o prejuízo, para relembrarmos a síntese de Celso Furtado.

O famoso bilionário Paul Getty costumava dizer que o melhor negócio do mundo era uma empresa de petróleo bem administrada.

Dizia que o segundo melhor negócio do mundo era uma empresa de petróleo mal administrada. Suspeitamos que não diria o mesmo da atual Petrobras, que, depois da derrocada do Grupo X — fortemente financiado pelo Estado —, tem o monopólio absoluto do setor.
Em vez da destruição criadora a que se referia Schumpeter assistimos no Brasil a um processo de destruição destruidora, como Elio Gaspari já destacou.

A Petrobras e a Eletrobras valem atualmente em mercado menos de 40% do que valiam há três anos. São perdas bilionárias que representam um desperdício social desnecessário. Não adianta tratar o assunto politicamente, pois este não é o objetivo deste articulista. São fatos. Mao-Tsé-Tung, autor hoje fora de moda, mas alinhado politicamente com parte do discurso oficial, já nos ensinou que “a prática é o critério da verdade”.