Vinicius Sassine - O Globo
PF investiga se Marcus Cezar foi indicado por Padilha para laboratório
Um dia depois de a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, prender o doleiro Alberto Youssef, o representante do laboratório do doleiro em Brasília, Marcus Cezar Ferreira de Moura, reuniu-se no Ministério da Saúde com o diretor do Departamento do Complexo Industrial e de Inovação em Saúde, Eduardo Jorge Valadares. A Lava-Jato foi deflagrada em 17 de março, quando houve 18 prisões preventivas, entre elas a de Youssef. No dia 18, Moura foi recebido pelo diretor do ministério.
Moura representava a Labogen S/A Química Fina e Biotecnologia, usada pelo doleiro para lavar dinheiro, conforme a investigação da PF. A polícia apura se o lobista foi indicado para o laboratório pelo ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo. A suspeita se baseia numa troca de mensagens entre o deputado paranaense André Vargas, que se desfiliou do PT semana passada, e Youssef.
Moura é ex-servidor do Ministério da Saúde, onde exerceu o cargo de coordenador de Promoção e Eventos entre maio e agosto de 2011. A nomeação foi feita por Padilha. Dois anos e meio depois, um relatório da PF relacionado à Operação Lava-Jato transcreve uma conversa por mensagens entre Vargas e Youssef. O deputado diz ter encontrado o executivo para a Labogen e afirma que “foi o Padilha quem indicou”. A referência era ao ex-servidor do ministério, que começou a trabalhar como representante do laboratório em Brasília a partir de dezembro. Tanto Vargas quanto Padilha negaram a indicação.
Segundo o Ministério da Saúde, o encontro de Moura com Eduardo Jorge, no dia seguinte à Lava-Jato, ocorreu sem qualquer registro na portaria da pasta. Esta não foi a primeira vez do representante da Labogen no prédio. Os registros da portaria apontam duas visitas: a primeira em 11 de fevereiro, e a segunda em 26 de fevereiro. Sobre a primeira visita, o Ministério da Saúde diz não ter conseguido mapear o destino do lobista da Labogen. No dia 26, ele esteve com o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Carlos Augusto Gadelha.
Eduardo Jorge e Gadelha são os gestores responsáveis pelas Parcerias para Desenvolvimento Produtivo (PDPs), que visam à transferência de tecnologia na fabricação de medicamentos. A Labogen se associou a uma gigante do setor farmacêutico, a EMS, e ao Laboratório Farmacêutico da Marinha para produzirem um medicamento. A PDP, de R$ 31 milhões, foi aprovada pelo Ministério da Saúde, mas cancelada depois da Lava-Jato. Não houve repasse de recursos. Tanto o diretor quanto o secretário são citados nas investigações como responsáveis pela parceria.
O encontro entre Eduardo Jorge e Moura envolveu a área técnica do ministério e foi feita em atendimento à “solicitação” da Labogen, como informou a pasta ao GLOBO. “No encontro, foi informado o andamento do projeto e ressaltado que em nenhum momento o Ministério da Saúde efetuaria contrato com empresa”, disse o ministério.
No caso do encontro com Gadelha, diz o ministério, Moura apresentou informações sobre o processo de inspeção da Vigilância local, que deu parecer favorável para a Labogen produzir as matérias-primas farmacêuticas: “O secretário tem como uma de suas atribuições institucionais receber dirigentes de instituições públicas e privadas com iniciativas para o setor.”
Os jornais “O Estado de S. Paulo” e “Folha de S.Paulo” mostraram ontem que um dos sócios da Labogen afirma que Moura foi contratado pelo laboratório para atuar junto a órgãos do governo federal, em especial o Ministério da Saúde. O ex-servidor mantinha “contatos institucionais” com a pasta, segundo esse sócio.