Post do leitor Michel Vieira
“Há três tipos de mentiras: as mentiras, as mentiras deslavadas e as estatísticas” — Benjamin Disraeli, grande estadista britânico do século XIX
Há um conceito em economia chamado “Princípio de Pareto”, o qual postula que, para muitos fenômenos, 80% das consequências advêm de 20% das causas.
Trata-se de uma técnica estatística que auxilia na tomada de decisão. Grosso modo, por exemplo, se um comércio não pode ter todos os itens líderes de mercado em seu nicho, ele dispõe de 20% dos mais rentáveis que darão 80% do lucro.
Este princípio tem vários desdobramentos, mas serve para nos mostrar o flagrante desequilíbrio entre causas e resultados. É uma eficaz ferramenta para definir prioridades na correção de defeitos.
Seus desdobramentos naturais foram a chamada “Curva ABC” e o “Diagrama de Pareto”. Enfim, a moral da história é o gestor saber que a maioria das perdas é devida à minoria das causas.
Lula acaba de conceder uma entrevista, para variar em algum cafundó chique do mundo, para dizer de novo que o mensalão não existiu.
Disse que não vai discutir a decisão da Suprema Corte, que a história vai provar que tralalá, que o tempo se encarregará de trelelê, aquela conversinha de sempre.
Chamou atenção o arremate: “O tempo vai se encarregar de mostrar que você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica.”
É o tipo da frase que tem que ser lida mil vezes. Se o mensalão não existiu, o correto seria que 100% da decisão do STF tenha sido política.
Mas… Se 20% da decisão foi de base jurídica, como reconhece o próprio Lula, conclui-se que base jurídica havia, donde o mensalão existiu…
De duas, uma: ou nosso douto ex-presidente aplicou o princípio de Pareto para reconhecer que uma decisão jurídica causou um estrago imenso na política do PT, ou se tratou de mais uma das muitas estatísticas eivadas da mais típica velhacaria deste que de tudo soube e tudo viu desde o começo.
A boa notícia é que Lula já arregou para 20%. Começa a achar que um quinto das barbaridades que a “imprensa golpista” publicava era verdade. Ou talvez reconheça que as nomeações petistas ao STF foram políticas e não jurídicas.
Dos 11 ministros atuais, oito foram nomeados pelo petismo e apenas três por outros presidentes. Dá praticamente os 80/20 do já descrito Princípio.
Temos como certa que a atuação de Lewandowski e Toffoli foram pouco jurídicas para dizer o mínimo. Justiça seja feita a Joaquim Barbosa, Carmen Lúcia e Luís Fux, também nomeados pelo PT.
Sinceramente, o único voto nos moldes colocados por Lula foi o de Celso de Melo (indicado por Sarney) ao aceitar os embargos infringentes.
Finalmente, analisando com cuidado as calculadamente distantes declarações de Lula sobre o mensalão, temos que elas seguiram bem a sequência de Disraeli: primeiro uma mentira. Depois uma mentira deslavada. E agora uma estatística.