Ninguém mais diferente da Marina Silva carrancuda no auditório da Confederação Nacional da Agricultura, em 6 de agosto, ainda como vice de Eduardo Campos, que a Marina Silva sorridente no meio dos usineiros paulistas na quinta-feira, prometendo a eles corrigir as "políticas equivocadas do governo" caso seja eleita presidente.
De ferrenha adversária da bancada ruralista na votação do Código Florestal no Congresso, passou a amiga do agronegócio. Tampouco é contra os transgênicos; agora diz que as pessoas não entenderam direito sua posição. Não é mais aquela que impõe vetos a aliados e nessa altura já considera as alianças entre opostos cabíveis dentro dos limites da "nova política".
Não provoca medo no mercado nem no empresariado porque faz os compromissos esperados em relação aos fundamentos da economia, à livre iniciativa, ao (fim do) controle artificial de preços, ao comércio exterior. Enfim, diz o que esses setores querem ouvir.
Nunca mais pronunciou o termo "sonhático". Não se ouve dela uma ideia de traço radical ou posição de conotação sectária, embora preserve um quê de austeridade e o charme de uma discreta intransigência. Mantém a suavidade, mas logo no primeiro debate surpreendeu os adversários partindo para o ataque direto ao cobrar de Dilma Rousseff os resultados (inexistentes) dos pactos de junho de 2013.
Sem se distanciar excessivamente do modelo original, Marina se reinventou e daí recuperou o antigo capital eleitoral, acrescentando a ele parte do patrimônio dos adversários. Na última pesquisa Ibope, ganhou 29 pontos em São Paulo, 15 em Minas, 25 no Rio e 15 na Bahia, os quatro maiores colégios eleitorais do País.
Os adversários, no entanto, preferem insistir na tese da comoção, da onda que passa. Além disso, Dilma e Aécio parecem ignorar a remodelagem e atacam-na com velhas armas sem considerar a evidência de que há uma nova Marina se apresentando ao eleitorado.
Falam de inexperiência, de radicalismo, de aventuras, de repulsa à política, de amadorismo, de incerteza, insegurança, de contradições e de inconsistências. Vulnerabilidades que a candidata do PSB não desconhece e por isso mesmo tratou logo de providenciar respostas para cada uma.
Significa que tomou a pulso a ideia de vir a presidir a República. Se os oponentes pretendem o mesmo, conviria que deixassem de agir como se estivessem diante de alguém que, mais cedo ou mais tarde - por obra de meia dúzia de palavras -, o eleitor verá como um ser excêntrico da floresta.
Ela está trabalhando para dizer que não é.
Compasso. Foi anunciado que Paulo Roberto Costa estaria disposto a fazer um acordo de delação premiada com o Ministério Público, a fim de tentar sair da cadeia e preservar a família nas investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Tudo pareceu encaminhado nesse sentido quando o advogado Nélio Machado deixou a causa, por discordar do acordo, e Costa chamou Beatriz Catta Preta, uma especialista no assunto.
Isso faz dez dias. De lá para cá soube-se que os procuradores federais querem de Costa os nomes dos políticos que se beneficiavam dos contratos superfaturados da Petrobrás.
Desde então, a nova advogada da causa vem dizendo que seu cliente ainda não decidiu se faz a delação, uma exigência peremptória principalmente da mulher dele, Marici.
Paulo Roberto Costa havia dito na prisão que se resolvesse revelar o que sabe - e só será beneficiado se der informações que esclareçam a materialidade e a autoria dos crimes - não haveria eleições.
Figura de retórica. Mas, pelo sim, pelo não, o encadeamento dos fatos autoriza a suposição de que possa ter havido só um conveniente adiamento.