- Camilo Rocha - O Estado de São Paulo
David Plouffe, do Uber, no tempo em que trabalhava para Obama. CRÉDITO: Doug Mills/The New York Times
Do que uma empresa de tecnologia precisa para prosperar? Desenvolvedores criativos, engenheiros eficientes, executivos de visão. Mas não apenas. Coloque na lista também negociadores políticos e lobistas.
Embora pressão política por parte das empresas do Vale do Silício sempre tenha existido em relação a assuntos ligados diretamente à internet e às telecomunicações (por exemplo, privacidade, direitos autorais, patentes), as incursões cada vez mais frequentes em áreas fora de seu território tradicional fizeram surgir a necessidade de uma atuação mais agressiva e durona.
Há duas semanas, o Uber anunciou a contratação do marqueteiro e estrategista político David Plouffe. coordenador da campanha de Barack Obama em 2008, Plouffe terá como tarefa principal conquistar “corações e mentes” para a causa do Uber, conforme as palavras do CEO da empresa, Travis Kalanick. Seu alvo são os cidadãos e potenciais clientes, mas especialmente autoridades e legisladores.
O Uber, que funciona como intermediário entre passageiros e motoristas, já foi aprovado em dezenas de cidades ao redor do mundo. Outras, porém, como Berlim, Seul e São Paulo, o rejeitaram por motivos que incluem segurança, legislação e impostos.
Kalanick e Plouffe consideram que decisões como estas favorecem “o grande cartel dos táxis” em detrimento do consumidor. Já está claro que a dupla irá à luta onde for para tentar emplacar seu serviço.
Em janeiro de 2013, um homem com longa experiência em uma entidade governamental assumiu como diretor de segurança para carros autônomos do Google. Ron Medford havia sido diretor-assistente do órgão nacional responsável pela segurança das autoestradas norte-americanas.
O Google trouxe Medford para se sentar à mesa com as autoridades de trânsito da Califórnia e de Nevada para pleitear autorizações para seus carros sem motorista. Um exemplo de sua atuação tem sido a tentativa de convencer estas autoridades de que os testes do carro da empresa realizados em uma cidade “virtual” valem tanto quanto os testes em ambientes físicos, exigência da legislação em vigor.
Na semana passada, com a revelação do plano de entrega por drones da empresa, chamado Project Wing, uma nova contenda se vislumbra, desta vez com autoridades da aviação civil. Nos Estados Unidos, como em quase toda parte, a legislação sobre o uso civil das aeronaves não tripuladas ainda está em desenvolvimento. Já há, porém, claros sinais de que as autoridades estão muito mais propensas a restringir do que a liberar. Este ano, uma cervejaria de Minnesota viu seus planos de entrega de bebida por meio de drones serem barrados pelo órgão norte-americano de aviação civil, a FAA.
Em 2013, só 12 empresas ou entidades gastaram mais em lobby nos EUA do que o Google, que ficou à frente de nomes como Boeing e Exxon. A empresa de Mountain View é cliente do Franklin Square Group, escritório de lobby que tem entre seus fundadores um antigo executivo da Cisco e atende companhias como Apple, Cisco e Intel.
Finalmente, na quinta-feira, como que para assinalar a crescente proximidade da empresa com o poder, foi noticiado que uma executiva do Google estaria prestes a ser nomeada chefe do escritório de tecnologia do governo Obama.