Felipe Frazão - Veja
Relatório do MP anexado a inquérito sobre deputado Luiz Moura cita o nome do irmão dele, Senival Moura, por suspeita de formação de quadrilha e corrupção
Deputado Luiz Moura (PT-SP) e seu irmão vereador Senival Moura (PT-SP) (Vera Massaro/Alesp e Renatod'Sousa/Câmara Municipal de São Paulo/VEJA)
Irmão do deputado estadual Luiz Moura (PT) – flagrado pela polícia em reunião com dezoito integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) –, o vereador paulistano Senival Moura (PT) é alvo de investigação do Ministério Público de São Paulo por suspeita dos crimes de formação de quadrilha e corrupção, aponta relatório sigiloso ao qual o site de VEJA teve acesso. Há uma semana, o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Márcio Fernando Elias Rosa, apresentou representação criminal contra o deputado Moura para apurar sete crimes: organização criminosa, extorsão, constrangimento ilegal, apropriação indébita, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e abuso de autoridade.
Ligados a perueiros que operam no sistema de transporte público de São Paulo, os irmãos Moura constam em inquéritos abertos para desvendar vínculos do PCC com as cooperativas. As investigações sobre Senival e Luiz Moura foram conduzidas até julho pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). As citações ao deputado, porém, foram remetidas ao procurador-geral de Justiça, a quem cabe investigar parlamentares estaduais, que têm foro privilegiado.
Senival Moura consta como investigado no procedimento investigatório criminal (PIC) nº 22/11, aberto em maio de 2011 para apurar como o PCC havia se "infiltrado" em quatro cooperativas de lotações. Além dele, também são alvos do inquérito o deputado Luiz Moura e mais dez pessoas, cinco delas vinculadas a cooperativas de transporte. O Gaeco já apurou que dois deles foram sócios de uma empresa com Luiz Moura e movimentaram milhões de reais em imóveis comprados com dinheiro vivo e empresas de fachada, como a Happy Play Tour, integrante do Consórcio 4 Leste. Luiz Moura chegou a figurar no quadro societário da Happy Play Tour com o capital de 4 milhões de reais em cotas. Em um dos endereços da empresa, segundo o Gaeco, funcionava um açougue.
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O Gaeco decidiu abrir a investigação após receber uma carta manuscrita anônima. A denúncia afirma que Senival e Luiz são “irmãos de sangue e do PCC” e líderes da facção na Zona Leste, região onde atuariam por meio de “testas de ferro” nas cooperativas de transporte. A denúncia também foi encaminhada à Polícia Federal, que decidiu arquivar o caso. Os promotores do Gaeco, porém, chegaram a fazer uma busca por bens, antecedentes criminais e conexões entre os suspeitos. Em setembro de 2011, o inquérito em que Senival foi citado passou a tramitar em conjunto ao PIC nº 34/10. A investigação ainda está em curso.
Neste ano, Senival Moura lançou-se candidato à Câmara dos Deputados, em Brasília, enquanto Luiz Moura trava na Justiça uma batalha para conseguir sair candidato à reeleição na Assembleia Legislativa paulista. O partido decidiu afastá-lo em junho, depois de vir a público a informação de que Luiz Moura, ex-presidiário, havia sido flagrado pela polícia em uma reunião da qual participaram dezoito integrantes do PCC, na garagem de uma cooperativa de lotações da Zona Leste, onde os irmãos montaram um relevante reduto eleitoral do partido. Nesta quarta-feira, o Tribunal de Justiça negou um recurso do PT, que tentava derrubar a liminar com a qual o deputado pediu o registro de sua candidatura na Justiça Eleitoral.
Divergência – Senival Moura disse ao site de VEJA que não tem relação com as empresas investigadas nem com os suspeitos e que apareceu nas investigações por ser uma pessoa pública ligada ao setor. "Meu nome foi citado porque é público e eu sou operador do sistema de transporte da cidade. Eu não faço parte de nenhuma das empresas, não tenho relação nenhuma com aquele pessoal, pelo contrário, tenho até divergências com eles", disse.
O vereador afirmou também que nunca foi informado da investigação, tampouco foi ouvido por algum promotor. O deputado Luiz Moura nega qualquer envolvimento com o crime organizado. Seu advogado, João de Oliveira, afirmou ao site de VEJA que considera "oportunismo político" a investigação do procurador-geral de Justiça.
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