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Segundo mediador Daniel Pollack, país não aceitou pagar fundos abutres e inicia período de moratória
Governo Kirchner afirmou que não pagará fundos abutres integralmente (Enrique Marcarian/Reuters/VEJA)
A Suprema Corte dos Estados Unidos anunciou na noite desta quarta-feira o "default iminente" da dívida da Argentina, depois de os representantes do país não chegarem a um acordo com os fundos abutres. No mesmo instante em que o fracasso das negociações foi anunciado, o ministro da Economia da Argentina, Axel Kiciloff, conduzia uma coletiva de imprensa em Nova York sem informar aos jornalistas sobre a situação de calote. Durante toda a coletiva, o ministro afirmou que a Argentina havia efetuado o pagamento dos juros aos credores que aceitaram a reestruturação da dívida — e negou o calote. Quando confrontado por uma jornalista argentina que possuía a nota da justiça americana informando sobre a situação de moratória, Kicillof afirmou que desconhecia a decisão: "Estou surpreso com o que você acaba de dizer. Esse comunicado me parece escrito para favorecer uma das partes. Eu não entendo a justiça americana", afirmou.
Em comunicado, o mediador designado pela justiça americana para resolver o impasse, Daniel Pollack, afirmou que o default da Argentina é iminente. O país não honrou o pagamento de 539 milhões de dólares aos credores que aceitaram a reestruturação da dívida em 2005 e 2010 porque seus representantes não acataram a decisão da Corte dos Estados Unidos, que determinava o pagamento, também, dos fundos abutres, que são os credores que não aceitaram a reestruturação e querem receber o valor total da dívida. "Default não é uma mera condição técnica, mas um evento doloroso e real que vai afetar as pessoas", afirmou Pollack na noite desta quarta-feira. "As consequências desse default não são previsíveis, mas certamente não são positivas", disse.
Segundo Pollack, a Corte chegou à conclusão de que a Argentina não poderia, segundo a lei, pagar os detentores da dívida reestruturada sem que pagasse, também, os que não aceitaram a reestruturação.
Nas negociações, a Argentina não cedeu em relação à oferta aos abutres: se quisessem receber, teriam de aceitar as mesmas condições dos credores que acataram a reestruturação. Contudo, os fundos se negaram a aderir às mesmas condições, que impuseram perdas de 40% aos investidores à época.
"Tenho trabalhado sem parar, ao longo das últimas cinco semanas, para reunir os representantes da Argentina e os holdouts (como a Corte se refere aos abutres) num acordo que permitisse o pagamento da dívida no dia 30", afirmou Pollack, em comunicado. "O default não pode se tornar uma situação permanente, algo que acarretará em enormes prejuízos para a Argentina e seus credores, mas, sobretudo, para os cidadãos argentinos, que serão as reais vítimas", afirma.
Por volta das 17 horas (horário de Brasília), a agência de classificação de risco Standard & Poor's colocou a nota da dívida argentina em 'moratória seletiva', o que significa que apenas uma classe de bônus, com vencimento em 2033, está em default. Ao saber sobre a classificação, o ministro Kicillof desferiu críticas à S&P. "Quem acredita nas agências de classificação de risco? Quem pensa que eles são alguma referência no sistema financeiro? Se elas sabem tanto sobre risco, porque não viram chegar a crise das hipotecas?", questionou o ministro, em coletiva à imprensa logo após terminar sua reunião com Pollack. Durante todo seu discurso, o Kicillof negou a moratória e afirmou que não se pode chamar de caloteiro um país que depositou o dinheiro para pagar seus credores. "Querem nos impor algo que é ilegal e muito ruim para a Argentina", disse o ministro, referindo-se ao pagamento aos fundos abutres.