quinta-feira, 31 de julho de 2014

Bolsa da Argentina despenca 8,4% após calote; Bovespa cai 1,84%

Dólar atinge R$ 2,275, maior valor em quase 2 meses;

 

RIO e BUENOS AIRES — O mês de julho acabou em clima de pessimismo nas Bolsas, com queda generalizada nos mercados globais em reposta a balanços corporativos decepcionantes, especulações sobre alta de juros nos Estados Unidos e, claro, o calote da Argentina. O principal índice de ações da Bolsa de Buenos Aires, o Merval, encerrou o dia em queda de 8,39%, aos 8.187 pontos, no primeiro pregão após o default. Todas as 13 empresas que compõem o índice recuaram.

No Brasil, a Bolsa caiu pelo quinto pregão consecutivo, com 58 das 70 principais ações em baixa, com destaque negativo para Petrobras e Ambev. Além do pessimismo global e de alguns resultados ruins divulgados por empresas importantes, analistas também dizem que pesou o resultado semestral do superávit primário, o pior já registrado entre janeiro e junho. O índice de referência Ibovespa recuou 1,84%, aos 55.829 pontos. O desempenho ruim atenuou a valorização da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no mês, que foi de 5%. No ano, a alta acumulada é de 8,39%.

— O superávit primário veio muito baixo, e isso fará com que a as agências de classificação de risco vejam a gente de uma forma diferente. Como a Bolsa brasileira já estava em estágio de realização de lucros (investidores vendendo ações que apresentaram valorização), o movimento foi intensificado com uma notícia dessas — disse Raphael Figueredo, da corretora Clear.

Na Europa, as principais Bolsas fecharam em queda, prejudicadas por balanços financeiros aquém do esperado em gigantes como Samsung e Lufthansa e pelo default da Argentina. A Bolsa de Frankfurt recuou 1,94%, enquanto a de Londres teve baixa de 0,64%. O índice de referência Euro Stoxx caiu 1,70%.

Em Wall Street, o índice Dow Jones caiu 1,88% e o S&P recuou 2%, pressionados também por resultados financeiras de companhias como Exxon Mobil e Whole Foods. A Nasdaq teve baixa de 2,09%.


— O calote argentino tem impacto na desvalorização de ativos no curto prazo mas ele será limitado, uma vez que o default não foi uma surpresa e a Argentina já está há muito tempo jogada para escanteio nos mercados de capitais internacionais — disse Mauro Schneider, estrategista da CGD Securities. — Para o Brasil, o efeito tende a ser maior, dada nossa relação comercial com a Argentina. Mas, embora as Bolsas de Europa e EUA estejam caindo, os mercados asiáticos não foram afetados.


DÓLAR PARALELO ATINGE 13 PESOS NA CAPITAL ARGENTINA

Em Buenos Aires, o dólar paralelo não tinha preço no começo do dia e várias “cuevas” (cavernas) do centro da cidade paralisaram suas operações. Depois de alguns reajustes, a moeda americana no mercado paralelo chegou a bater 13 pesos, subindo 0,70 centavos em relação à véspera. No oficial, o aumento foi de 0,12%, ficando em 8,23 pesos.

— O mercado tem ainda muitas dúvidas e incertezas — comentou uma fonte de um banco estrangeiro.

Economistas locais temem que o calote, embora seletivo, aprofunde a recessão econômica e acelere a inflação. Para este ano, empresas de consultoria privada projetavam, antes do fracasso das negociações em Nova York, queda do PIB entre 1% e 2% e inflação entre 35% e 37%.
— Esperamos que este calote seja o mais efêmero possível — declarou o presidente do Banco Ciudad, Rogelio Frigerio.

Frigerio defendeu a necessidade de continuar negociando com os fundos abutres um acordo que consiga reverter a situação.

— Para o resto do mundo, estamos em situação de calote — disse o presidente do Banco Ciudad, em referência a interpretação do governo Cristina Kirchner sobre a crise que vive o país.
Para a Casa Rosada, não é correto falar em calote, porque o país está pagando. No final desta quinta, Cristina participará de um ato no palácio de governo e a expectativa é de que a presidente reitere a posição expressada na última quarta pelo ministro da Economia, Axel Kicillof, em Nova York: a responsabilidade do que chamam de calote técnico é o do juiz americano Thomas Griesa.


PETROBRAS CAI MAIS DE 3%

Entre as ações brasileiras, a Petrobras exerceu a maior pressão negativa sobre o Ibovespa. A estatal caiu 3,69% nas ações ordinárias (com direito a voto, cotadas a R$ 17,99) e 3,78% nas preferenciais (sem voto, a R$ 19,10).

— A Petrobras havia subido muito nas últimas semanas, por causa de especulações eleitorais, então agora está devolvendo um pouco o preço — afirmou Hersz Ferman, da Elite Corretora.

A Vale subiu 1,02% (ON; R$ 32,55) e 0,69% (PN; R$ 29,13), depois de a companhia divulgar seu balanço financeiro. A mineradora teve lucro líquido de R$ 3,187 bilhões no segundo trimestre, com preços menores do minério de ferro limitando ganhos. Mas o lucro saltou 283% na comparação com o mesmo período do ano anterior, quando o resultado foi afetado por surpreendentes perdas contábeis cambiais bilionárias. Em relação ao primeiro trimestre de 2014, houve queda de 46%, devido à baixa contábil relacionada a ativos em Simandou (Guiné) e da mina de Integra Coal (Austrália) que totalizou R$ 1,73 bilhões.

As vendas de minério de ferro cresceram 7,7% ante o mesmo período do ano anterior, para 63,726 milhões de toneladas, com a Vale compensando parcialmente os preços menores do produto, que caíram 17,6% ante 2013, para US$ 84,60 por tonelada.

A Ambev, que também divulgou relatório hoje, registrou queda de 4,45% (R$ 15,67) — a segunda maior, melhor apenas que o resultado da Gafisa (queda de 4,62%, R$ 3,30). A empresa de bebidas teve lucro líquido ajustado de R$ 2,22 bilhões no trimestre que passou, quando os analistas esperavam R$ 2,28 bilhões.

Entre os bancos, o Bradesco avançou 0,28% (R$ 35,38) em suas ações ordinárias. A instituição registrou lucro líquido de R$ 3,778 bilhões no segundo trimestre, uma alta anual de 28,1%. Foi o único banco que se safou. O Santander teve baixa de 2,56% (R$ 15,24), depois de ter registrado lucro líquido de R$ 527,5 milhões no segundo tri. O resultado é 1,75% maior que os R$ 518,4 milhões registrados nos primeiros três meses do ano. Apesar disso, veio abaixo do esperado pelo mercado. O Itaú Unibanco teve recuo de 2,06% (R$ 35,10), e o Banco do Brasil teve baixa de 2,63% (R$ 27,72).


DÓLAR AVANÇA SOBRE PRINCIPAIS MOEDAS DO MUNDO

O dólar comercial registrou valorização de 1,42%, rompendo a barreira dos R$ 2,25 que vinha mantendo nos últimos meses. A moeda americana encerrou cotada a R$ 2,273 para compra e a R$ 2,275 para venda. Foi a maior cotação desde 4 de junho. A divisa apresentou valorização em escala global, avançando sobre as 16 principais moedas do mundo.

Na véspera, o governo americano anunciou que a economia dos EUA avançou 4% no segundo trimestre (em percentual anualizado), ante expectativas em torno de 3%. O resultado animador levou os investidores a acreditar que o Federal Reserve (Fed, banco central do país) elevará os juros básicos americanos antes do esperado, o que leva a uma valorização do dólar. Ontem, a moeda fechou em alta de 0,53%, a R$ 2,243.

Também pressionou o câmbio no Brasil as sanções econômicas impostas à Rússia por causa de sua participação no conflito ucraniano e o calote argentino. Em julho, o dólar subiu 1,52%, e, no ano, teve queda de 3,5%.