Reuters
A Gerdau teve queda anual de 2 por cento no lucro líquido do segundo trimestre, diante da fraqueza nas operações siderúrgicas e de minério de ferro no Brasil. A empresa também anunciou corte de 500 milhões de reais no investimento previsto para este ano devido às incertezas com a economia do país.
A maior produtora de aços longos das Américas teve lucro líquido de 393 milhões de reais de abril a junho, praticamente em linha com expectativa média de analistas, de 387 milhões de reais.
A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) somou 1,17 bilhão de reais no período, recuo de 2,2 por cento sobre um ano antes.
Menor atividade industrial no Brasil, tombo na demanda por veículos e uma queda nos preços do minério de ferro estão impactando o setor siderúrgico do país em 2014, e também é pressionado por forte nível de importações diretas e indiretas.
Na semana passada, a Usiminas divulgou que o cenário no mercado interno brasileiro fará a empresa focar mais em exportações no terceiro trimestre, apesar da forte competição com produtores internacionais.
O presidente da Gerdau, André Gerdau Johannpeter, evitou dizer se a operação brasileira da empresa pode adotar estratégia semelhante à da Usiminas, mas afirmou em teleconferência com jornalistas que a indústria do país está passando por um momento de ajuste de estoques, sentido no segundo trimestre.
Ele afirmou que o cenário da economia nacional segue com "forte volatilidade" e que a Gerdau encerrou o segundo trimestre usando cerca de 70 por cento da capacidade instalada no Brasil, ante nível considerado normal pelo setor de 80 a 85 por cento.
"Infelizmente, o cenário do segundo semestre está cada vez mais desafiador no Brasil e com prêmios no mercado doméstico acima de 20 por cento; algum desconto de preço pode ser inevitável", disse o analista Leonardo Correa, do BTG Pactual, em relatório a clientes.
As ações da Gerdau fecharam em queda de 2,55 por cento nesta quarta-feira, enquanto o Ibovespa cedeu 0,42 por cento.
INVESTIMENTO 17% MENOR
A Gerdau reduziu em 17 por cento a expectativa de investimentos de 2014, de 2,9 bilhões de reais para 2,4 bilhões. A maior parte do corte deve-se às incertezas com o mercado brasileiro, afirmou Gerdau.
A companhia já vinha mostrando cautela desde o início do ano, quando alterou sua política de divulgação de orçamentos de investimentos de cinco anos para um ano.
A Gerdau anunciou na véspera a transferência a partir de setembro da produção de laminador de Sorocaba (SP) para outras unidades por "necessidade de otimização das atividades no segmento de aços especiais para indústria automotiva, frente ao complexo cenário da indústria do aço no Brasil e no mundo".
Segundo o executivo, o laminador de Sorocaba é da década de 1950 e não valia a pena investir em uma modernização do equipamento. Gerdau disse ainda que novos fechamentos de unidades produtivas no país não estão previstos.
O resultado da Gerdau foi apoiado pela divisão da América do Norte, onde a receita subiu quase 16 por cento, a 3,58 bilhões de reais, enquanto o Ebitda saltou 77,8 por cento, 281 milhões de reais.
A valorização do real contra o dólar no período também ajudou a conter a queda no lucro da companhia. O resultado financeiro negativo mostrou recuo de 61,5 por cento na comparação anual, a 211 milhões de reais.
A Gerdau encerrou junho com forte queda na alavancagem, cuja relação dívida líquida sobre Ebitda caiu de 3,1 vezes no segundo trimestre de 2013 para 2,4 por cento neste ano. A empresa promoveu em abril uma operação de troca de bônus que envolveu emissão de 1,2 bilhão de dólares em títulos.
No segundo trimestre, a Gerdau reduziu as vendas de aço em 2,4 por cento sobre o mesmo período do ano passado, para 4,524 milhões de toneladas, enquanto a produção teve leve incremento de 0,5 por cento, a 4,668 milhões de toneladas.
Já os custos das vendas subiram 7,5 por cento no período, a 9,18 bilhões de reais, impulsionados pelas operações da empresa na América do Norte, além das áreas de aços especiais e minério de ferro.
Mas as despesas com vendas, gerais e administrativas ficaram relativamente controladas entre os períodos, representando 6,5 por cento da receita líquida nos três meses encerrados em junho.
(Por Alberto Alerigi Jr., com reportagem adicional de Stephen Eisenhammer, no Rio de Janeiro)