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Índice Merval abriu em queda de mais de 1% nesta quinta-feira. Analistas não estão confiantes com o desempenho da bolsa no dia
Governo de Cristina Kirchner, presidente argentina, não chegou a um acordo com os fundos credores e país entrou em 'default' (calote) (Marcos Brindicci/Reuters/VEJA)
O principal índice da Bolsa de Valores da Argentina, o Merval, abriu em queda nesta quinta-feira, após o país ter entrado em default (calote) pela segunda vez em 13 anos. Com apenas cinco minutos de pregão, o índice já caía 1,15%, mas as perdas se intensificaram rapidamente e, por volta de 11h30, já estavam em 6,76% (aos 8.230 pontos). Na tarde anterior, o índice fechou em alta de 7,08%, aos 8.937 pontos. Em julho, o Merval chegou a subir quase 14%, possivelmente com o mercado esperando uma resolução do problema.
A Argentina entrou na noite de quarta em default (situação em que o país dá um calote em seus credores) pela segunda vez em 13 anos depois que acabaram as esperanças de um acordo de última hora com os credores chamados de "fundos abutres", ou "holdouts". O calote abre caminho para que os preços de ações e bônus argentinos desabem nesta quinta-feira – e aumenta as chances de que a recessão econômica do país se intensifique e respingue nos países vizinhos, em especial o Brasil.
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, a BM&FBovespa, abriu também em queda nesta quinta-feira, reagindo aos acontecimentos com seu vizinho e importante parceiro comercial, inclusive no Mercosul. Por volta de 11h50, o índice recuava cerca de 1,47%, aos 56.041 pontos.
O que são fundos abutres?
Fundo abutre é um jargão do mercado financeiro usado para classificar fundos de hedge que investem em papéis de países que deram calote — atuam, em especial, na América Latina e na África. Sua atuação é perfeitamente legítima. O termo abutre foi criado para diferenciá-los dos fundos convencionais, justamente por trabalharem como "agiotas" de países caloteiros, emprestando dinheiro em troca de "títulos podres". São considerados pelo mercado uma espécie de 'investidor de segunda linha'. Sua atuação consiste em comprar títulos da dívida de nações em default por valor irrisório para depois acionar o país na Justiça e tentar receber ganhos integrais. Os "abutres" compraram os papéis da dívida argentina por 48,7 milhões de dólares em 2001 e querem receber, hoje, cerca de 1 bilhão de dólares. A Argentina, por sua vez, tenta escapar do pagamento. O país teme que, caso aceite pagar os "abutres" integralmente, os 92% de credores que aceitaram a renegociação da dívida em 2005 e 2010 possam buscar na Justiça o direito de receber ganhos integrais. Neste caso, o pagamento poderia reduzir as reservas internacionais do país a praticamente zero. Outro agravante é que, devido ao histórico de calotes e decisões econômicas escandalosas do país, sua credibilidade para negociar com credores está fortemente abalada.
Sem acordo – Depois de sete horas de reuniões em Nova York, o ministro argentino da Economia, Axel Kicillof, disse na véspera que os "fundos abutres", liderados pelos fundos NML e Aurelius, rejeitaram de novo a oferta de aderirem à negociação com as mesmas condições aceitas pelos outros credores. Kicillof acrescentou que tampouco aceitaram o pedido da Argentina para que peçam à Justiça que suspenda a ordem que impede o país de pagar sua dívida externa se não fizer o mesmo com os "holdouts".
A Argentina buscou em vão uma suspensão de última hora da decisão do juiz norte-americano Thomas Griesa ordenando o pagamento de 1,33 bilhão de dólares mais juros aos credores "holdouts". Griesa decidiu que a Argentina não podia pagar sua dívida reestruturada sem pagar os "holdouts" ao mesmo tempo.
Consequências — O efeito mais pernicioso da moratória é o fim do acesso do governo argentino ao mercado internacional. O que significa que o país não pode emitir títulos. A medida também dificulta a captação externa dos bancos e empresas argentinas. Por essa razão, bancos privados do país tentaram montar um fundo de garantias de mais de 200 milhões de dólares para oferecer aos abutres como forma de negociação. Kicillof afirmou que a tentativa dos bancos é legítima e disse que "sentia muito" pelos prejuízos que o setor privado do país teria com a restrição ao mercado internacional. Os credores também podem conseguir na Justiça o bloqueio de bens do país no exterior, como forma de amortizar a dívida.