Fernanda Krakovics e Simone Iglesias - O Globo
Comitê eleitoral vê parte da classe artística migrar para o lado de Aécio e Campos
Depois do descolamento entre o PT e as ruas, que ficou evidente nas manifestações de junho do ano passado, a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff se preocupa agora com a área cultural, devido ao afastamento do PT de intelectuais e artistas, setor historicamente ligado aos petistas. O comitê eleitoral da presidente prevê dificuldades e avalia que houve um "descuido" nos últimos anos.
Na tentativa de promover uma reaproximação, a campanha de Dilma tenta organizar um ato, no Rio, com artistas, intelectuais e produtores culturais. O evento, no entanto, não tem data marcada ainda e há dúvida se haverá clima e quórum expressivo. Parte da classe artística migrou para as campanhas dos adversários Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
— Será bem mais difícil ter neste ano a área cultural, porque não cultivamos intelectuais e artistas — afirmou um integrante da cúpula da campanha.
A relação com a classe artística azedou de vez na gestão de Ana de Hollanda no Ministério da Cultura, que foi marcada por polêmicas, principalmente em relação ao direito autoral. O clima melhorou um pouco no ano passado com a aprovação de lei,com o apoio da atual ministra da Cultura, Marta Suplicy (PT), que mudou as regras de cobrança, arrecadação e distribuição de recursos pagos por direitos autorais na produção musical.
— Estamos tentando organizar um evento, mas não há ambiente para isso. O clima é ruim, houve um afastamento dos artistas no mandato da presidente Dilma. É nítido que a área cultural não está apoiando a reeleição — afirmou um integrante da coordenação da campanha ligado ao setor cultural.
A tentativa de reaproximação passa pelos militantes mais tradicionais do PT e por grupos ligados a movimentos culturais populares como o circuito Fora do Eixo e os Pontos de Cultura. Em reunião do grupo que está fazendo o programa de governo de Dilma na área da cultura, semana passada, a avaliação foi de que houve paralisia nas políticas estruturais para o setor, em comparação com a gestão do ex-presidente Lula.
No encontro, os petistas lembraram uma propaganda de TV da campanha de Lula de 1989, chamada "Coro dos Artistas", onde apareciam dezenas de atores, atrizes, cantores e compositores cantando "Lula Lá". Grande parte, comentaram, abandonou a militância e deixou de apoiar o PT.
Integrantes do comitê de reeleição citam como exemplo jantar de apoio ao tucano Aécio Neves organizado pelo apresentador Luciano Huck, que reuniu artistas no final de maio. O candidato do PSB, Eduardo Campos, e sua vice, Marina Silva, também se reuniram com artistas no final de maio, em encontro organizado pelo cineasta Guel Arraes, no Jockey Club, no Rio.
Sem clima na área cultural, a campanha de Dilma pretende investir nos movimentos sociais. A coordenação da campanha está organizando uma série de mobilizações, plenárias e encontros para tentar fazer com que se engajem na campanha.
O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência da República) se reuniu na última segunda-feira com o presidente do PT, Rui Falcão, e com o coordenador de assuntos federativos da campanha, Cesar Alvarez, para apresentar um plano de trabalho.
