‘Seria dramático que o governo Kirchner, que começou saindo de um calote, terminasse assim’, diz Graciela Mochkofsky
Marina Gonçalves - O Globo
Jornalista argentina diz que o povo está preocupado com o preço do dólar
Graciela Mochkofsky: na Flip para lançar seu último livro, “Estação terminal”, jornalista argentina fala sobre o calote do governo argentino - Divulgação / Divulgação
Morando em Nova York há um ano e na Flip para lançar seu último livro, “Estação terminal”, a jornalista argentina Graciela Mochkofsky falou nesta quarta-feira sobre o calote do governo argentino e a preocupação de que a crise afete novamente a economia interna do país. Em entrevista ao GLOBO, na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Graciela lembrou que os efeitos não têm a mesma dimensão que a crise de 2001, mas, após uma década de crescimento, lamentou o que vem acontecendo nos últimos dias.
— Seria muito dramático que o governo Kirchner, que começou saindo de um calote, terminasse assim. E pelo que vejo, os últimos acontecimentos são um sinal de que as consequências vão além da Argentina. As pessoas estão preocupadas com o preço do dólar, com a crise iminente – disse, momentos depois de um passeio de barco em Paraty, para onde veio acompanhada do marido e do filho. — Li nos jornais que os bancos argentinos tentaram comprar uma parte da dívida, para que não estejam totalmente dependentes dos abutres. Não sou uma especialista em jornalismo econômico, mas me parece que não é uma saída que funcionará.
Jornalista independente e escritora, Graciela se radicou nos EUA para tentar manter a isenção que, segundo ela, falta à imprensa argentina. Depois de 15 anos trabalhando em jornais locais, decidiu deixar o país para tentar “contar a verdade, de maneira independente”. Não por acaso, um de seus livros mais famosos (“Pecado original: Clarín, os Kirchner e a luta pelo poder”) fala justamente da polaridade na imprensa argentina: ou se é oficialista, e não se pode criticar o governo, ou se é opositor, e não se noticiam os acertos.
— Todos os veículos se posicionam. Deixei o país para tentar descobrir as histórias como elas são, para tentar conseguir a independência jornalística. E consegui isso escrevendo livros.
Sem criticar totalmente o posicionamento atual do governo, que, de acordo com ela, “não pode ser analisado fora de um contexto econômico e político de décadas”, ela afirmou que a atual conjuntura é “resultado da decadência de um sistema corrupto”. “Estação terminal”, que será apresentado na Flip, por exemplo, fala do maior acidente ferroviário da história do país — foram 52 mortos e quase 800 feridos —, para ela um paralelo da decadência de um país que já foi modelo na América Latina.
— Em um país onde não se respeitam as leis, as atividades mais simples, como se locomover, podem levar à morte.