Folha
A enorme desconfiança que se criou entre o governo e setores empresariais privados, principalmente o financeiro e o industrial, é resultado:
1º) Da lentidão do governo de entender que 2011 marcou o início do fim da enorme contribuição externa gerada pela melhoria das nossas "relações de troca", que emergiu da entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2002. Combinado com a revolução demográfica produzida pela educação das mulheres, que vem reduzindo dramaticamente a taxa de expansão da população, isso já exigia uma profunda mudança na estratégia do nosso modelo de desenvolvimento social e econômico. Em particular, uma harmonização do tempo da importante e civilizatória política distributiva.
2º) De um grave problema de comunicação sobre necessária "modicidade tarifária" que deve mesmo ser procurada pelo governo quando ele pretende conceder um monopólio público ao setor privado. Infelizmente, a demora do governo de reconhecer que não podia fixar ao mesmo tempo, a "qualidade" do projeto e a sua "taxa de retorno", somada a um inegável preconceito do setor privado empresarial, foi confundida com a ideologia corporativista e estatizante que persiste no programa do Partido dos Trabalhadores.
3º) Por último, mas não menos importante, da destruição do setor industrial e seus investimentos, que reduziu o crescimento do PIB per capita dos últimos quatro anos a 1% ao ano. Há mil justificativas para o fato. Talvez a menos importante seja a continuada manipulação da taxa de câmbio (em lugar da política fiscal), para o controle da inflação.
Retirou-se do setor a última condição isonômica de competição. As outras três: completa isenção tributária na exportação; taxa de juro real parecida com a dos competidores e "drawback verde-amarelo", foram sendo enterradas ao longo dos últimos 30 anos. Nestes, o valor de nossas exportações permaneceu como míseros 1,3% das mundiais, enquanto a Coreia do Sul e a China, que tinham a mesma porcentagem em 1984, multiplicaram-nas por 3 e 9, respectivamente. Foi o aumento das quantidades e dos preços de exportação de nossos produtos básicos que nos salvaram de novas crises cambiais, como as que tivemos nos anos de 1998 e 2002, que nos levaram ao FMI.
A volta ao crescimento e a continuação do processo redistributivo, que aumenta a igualdade de oportunidades, são necessários para a continuidade da construção da sociedade civilizada que o Brasil deseja.
Para que isso aconteça é preciso reconstruir a ponte de confiança entre o governo e o setor produtivo privado.