Maria Lima, Junia Gama e Simone Iglesias - O Globo
Candidato do PSB muda estratégia de preservar governo do ex-presidente petista
Aplaudido em vários momentos pelos empresários e tendo a vice Marina Silva ao lado, o candidato do PSB a Presidência da República, Eduardo Campos, recheou sua exposição inicial com alfinetadas aos adversários Dilma Rousseff, do PT, e Aécio Neves, do PSDB, na sabatina promovida nesta quarta-feira pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI). Disse ser ele a única possibilidade de quebrar o presidencialismo de coalizão e a divisão dos últimos 20 anos entre PT e PSDB.
O presidenciável falou que, se eleito, irá mandar a reforma tributária no primeiro dia de gestão e que o governo falhou na questão das parcerias público-privadas e na política internacional, não podendo-se limitar ao Mercosul. Sugeriu também que Dilma só deve segurar o preço da gasolina até as eleições. Sobrou até para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas críticas feitas por Campos.
De olho no voto lulista anti-Dilma, ele vem poupando o ex-presidente em suas críticas. Mas começou o ironizando, lembrando que em 2008 Lula disse que a crise de internacional chegaria no Brasil como uma marolinha:
- Esse conjunto de notícias sobre a economia nos impõe uma reflexão sobre o momento que o mundo vive, de busca de novos valores de conceito de desenvolvimento da maior crise do capitalismo. Pensamos que era apenas uma marolinha, mas agora vimos o tamanho do desafio que está posto - disse o pernambucano.
Ele foi aplaudido a primeira vez quando disse que o Brasil precisa de um novo padrão de governança. Criticou o balcão de entrega de ministérios em troca de apoio e governabilidade, e disse que o padrão político no Brasil faliu, esclerosou, não tem ambiente para competitividade.
Nesse momento Campos se vendeu como a candidatura que será capaz de mudar o sistema de governança “patrimonialista, fisiologista, atrasado, com a cabeça na velha República”.
- Eu e Marina somos a única possibilidade de quebrar o presidencialismo de coalizão - disse Eduardo Campos, provocando o candidato tucano, Aécio Neves, sem citá-lo nominalmente:
- O que vem aí, por mais biografia que tenha, não tem condições de fazer o novo.
Ele disse que respeitava Aécio e Dilma, mas que seu entorno não lhes permitiria fazer as mudanças. Disse que conhecia a estória dos dois, mas que eles não teriam condições de fazer as reformas cercados por José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor.
- A vida da gente são as nossas circunstâncias. E as circunstâncias que cercam Dilma e Aécio é a de conservar essa velha política que já faliu - disse.
Confiante em sua vitória, Eduardo Campos adiantou ações de sua gestão: não aumentar impostos ou retirar direitos trabalhistas.
- Eu vou comandar a agenda da produtividade do Brasil a partir do dia 1º de janeiro - disse ele, sendo novamente aplaudido.
- O que falta é uma palavrinha mágica que eu conheço muito bem: gestão - completou.
PROMESSA DE UMA REFORMA TRIBUTÁRIA
Eduardo Campos citou a incapacidade dos governos anteriores para fazer a reforma tributária. Disse que não saiu no governo do presidente Fernando Henrique, nem no governo seguinte, sem citar Lula, por causa da guerra federativa.
- Serei o primeiro presidente da República que irei mandar a reforma tributária na primeira semana de governo - disse Eduardo, sob aplausos, completando que será o primeiro da era democrática que não aumentará carga tributária em sua gestão.
Ele também se preocupou em negar que vá retirar direitos trabalhistas. Disse que sua história política não lhe permite ser um presidente que acabe com o direito dos trabalhadores. Mas que irá discutir “situações insuportáveis” com os empresários.
- Não é possível que tenhamos tantas ações trabalhistas no Brasil. Isso não é natural - disse o candidato do PSB.
E voltou ao tom político para concluir sua exposição:
- O Brasil precisa de unidade, e dizer os valores que quer para o século XXI: ética, coragem e competência.
MUDANÇA DE ESTRATÉGIA
Eduardo Campos rompeu nesta quarta-feira com sua estratégia de focar as críticas na presidente Dilma Rousseff e preservar o governo Lula e alfinetou, em ao menos duas oportunidades, o ex-presidente Lula. Além de considerar errada a previsão da “marolina”, em 2008, em outro momento, quando respondia a perguntas de representantes da indústria brasileira, Campos apontou uma "falha do governo Lula" em relação à regulação de parcerias público-privadas.
- O desafio da infraestrutura no Brasil é de todo um processo histórico de baixo investimento que vivemos nas décadas perdidas, depois na década de ajuste fiscal sobrou muito pouco recurso para infraestrutura. E o processo de privatização canalizou para o que já existia, e não para novas possibilidade. Atrasamos também o processo de parcerias público-privadas, uma falha no segundo governo Lula - afirmou.
Depois, em uma crítica indireta, Campos não poupou o governo Lula quando se referiu a alta carga tributária existente hoje o Brasil.
- Aí ninguém escapa, todos foram aumentando a carga tributaria, é o sujo falando do mal lavado - pontuou.
POLÍTICA EXTERNA E CAPITALISMO
Em relação à política externa, Campos adotou um discurso intermediário entre o de Dilma e o de Aécio, afirmando que o Brasil não pode ficar "travado" pelo Mercosul na costura de acordos bilaterais. Para o candidato, o país deve fortalecer suas relações com países economicamente mais importantes, como Estados Unidos e os da União Europeia:
- O Brasil precisa de uma política de relações exteriores que não seja de partido, mas de estado. Não podemos ter preconceitos de nenhuma ordem no mercado global. Precisamos voltar a discutir nossa pauta de relação com parceiros mais maduros do Brasil, Estados Unidos, Europa e China. E também destravar o Mercosul, as relações não são excludentes. Não podemos ficar travados pelo Mercosul, o mundo está fazendo acordos bilaterais em seqüência e o Brasil fica com o comércio exterior comprometido se não tomar essa iniciativa.
Apesar de representar um partido socialista, o PSB, Eduardo Campos defendeu que não haja preconceito com o lucro no capitalismo. Nesse momento, o candidato voltou a ser aplaudido.
- Não deve haver preconceito com o lucro no país capitalista. Pode-se até sonhar com outra realidade. Mas preconceito com lucro mata investimento. O crescimento não vem e mata a prosperidade.
GASOLINA MAIS CARA APÓS ELEIÇÃO
Em entrevista coletiva após a sabatina da CNI, o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, manteve as críticas à presidente Dilma. Disse que, se eleito, enviará ao Congresso proposta de Reforma Tributária nos primeiros meses, “enquanto Dilma sequer fez tentativa” de votar projeto, e afirmou que o governo da adversária segura o preço da gasolina por conveniência eleitoral.
- O governo diz que tem que segurar a gasolina até a eleição, se tocar na gasolina é um problema. Quero ver como o preço vai estar em novembro- disse, ao avaliar que a Petrobras não tem foco de investimentos e vai mal na gestão.
- Não há planejamento de caráter geral sobre energia, se politiza a gestão e se pega a principal fonte de receita por conveniência política. 'Vou aumentar gasolina porque não fiz o dever de casa - criticou. Eduardo disse que, se eleito, definirá uma política clara de reajuste dos combustíveis.
Quanto à reforma política, garantiu que trabalhará para que seja votada e aprovada pelos deputados e senadores no primeiro semestre de 2015.
Ao criticar a aliança da presidente Dilma e do PT com o PMDB citando os senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL), Eduardo afirmou que as manifestações de junho do ano passado mostraram que ninguém tolera mais esse tipo de política “atrasada e insuportável”.
- Temos que reconhecer que esse tipo de política está esgotado - afirmou o candidato.