Em mais uma derrota para o candidato Ciro Gomes (PDT), o PSB vai anunciar a neutralidade no 1.º turno das eleições 2018. O partido fechou um acordo com o PT e se comprometeu a não apoiar nennhum candidato à Presidência da República na primeira parte da corrida eleitoral. Sem aliança com outros partidos, isolado, Ciro terá apenas 5% do horário eleitoral - cerca de 36 segundos por bloco. O tempo é oito vezes menor do que o do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que sozinho tem cerca de 40% da propaganda eleitoral gratuita.
A Executiva Nacional do PT confirmou que anuncia nesta quarta-feira, 1, os termos de um acordo eleitoral com o PSB. A candidatura da vereadora de Recife Marília Arraes ao governo de Pernambuco já foi retirada por 17 votos a 8 em reunião da executiva nacional do PT. A medida era vista como fundamental para haver a neutralidade do PSB. O partido tem como um dos principais objetivos nesta eleição a reeleição do governador Paulo Câmara (PSB). Marília afirmou que o acordo entre PSB e PT é "ataque especulativo" à sua candidatura.
Além de Pernambuco, os petistas vão coligar com o PSB na Paraíba, Amazonas e Amapá. No Maranhão, o PT vai apoiar o PCdoB. A resolução da executiva, no entanto, não fala sobre oferta da vaga de vice presidente para o PCdoB, como a sigla esperava. “Com o objetivo de fortalecer a unidade do campo popular em torno da candidatura Lula, e na perspectiva de construir as condições políticas para que uma aliança progressista governe o país a partir de janeiro de 2019, a direção do PT desenvolveu intenso diálogo com outros partidos, prioritariamente PSB e PCdoB, com os quais temos vínculos históricos”, diz o texto.
A movimentação política entre PT e PSB também beneficia o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), que desde o início do processo eleitoral rejeitava a aliança do partido com outra legenda da esquerda. Com a neutralidade, França poderá apoiar livremente a candiatura de Alckmin, seu antecessor no Estado.
Em troca, além da neutralidade, o PSB vai retirar a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda como candidato ao governo de Minas Gerais. E liberar os seus diretórios a se aliarem a candidatos do PT. A estimativa é que em 14 estados o partido se aliará localmente com os petistas.
"Com esse gesto do PT, não vai ter nenhuma disputa no domingo. Posso garantir que vamos optar pela neutralidade", disse o deputado Julio Delgado (PSB-MG). O PSB marcou sua convenção nacional para domingo, dia 5.
O acordo será um revés para o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, que tentava atrair o PSB e agora deve contar com apoio de poucos diretórios do partido, como Distrito Federal e Espírito Santo. Nesta quarta, o Estado mostrou que Ciro e Marina tentavam romper o isolamento buscando alianças com PSB e PV, respectivamente.
Em São Paulo, o governador Márcio França (PSB), candidato à reeleição, ficará liberado para apoiar o pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, o ex-governador Geraldo Alckmin.
PDT ironiza divisão no PSB
Em meio às negociações em torno da chapa de Ciro Gomes, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, criticou a divisão dentro do PSB. "Engraçado é que Pernambuco é que decide sobre o Brasil. Pernambuco está maior do que o Brasil", ironizou Lupi ao Estadão/Broadcast.
Ao lado de São Paulo, Pernambuco é o diretório que mais tem delegados na convenção nacional do PSB. Liderados pelo governador Paulo Câmara, o grupo pernambucano tentava atrair o PT para a chapa de reeleição estadual em troca do apoio nacional ao candidato indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por sua vez, os diretórios do PSB em Minas Gerais, Distrito Federal e Ceará querem apoiar Ciro. Há também uma ala que advoga pela independência do partido, capitaneada pelo governador paulista, Márcio França. A ideia de lançar uma candidatura pessebista como cabeça de chapa naufragou nos últimos dias.
Apesar da crítica aos pernambucanos, Lupi disse esperar uma definição do PSB, que realiza convenção no domingo, data-limite estabelecida pela lei eleitoral. "Vamos esperar até dia 5. Até lá, é uma eternidade", afirmou.
Felipe Frazão, Mateus Fagundes e Marianna Holanda, O Estado de S.Paulo