quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Debate ao governo de NY com atriz de Sex and The City vira palanque contra Trump

O governador de Nova York, Andrew Cuomo, e a pré-candidata Cynthia Nixon durante debate em Hempstead (EUA)

O governador de Nova York, Andrew Cuomo, e a pré-candidata Cynthia Nixon durante debate em Hempstead (EUA) - Craig Ruttle/Reuters

NOVA YORK
O primeiro —e possivelmente único— debate entre o atual governador de Nova York, Andrew Cuomo, e a atriz Cynthia Nixon, da série “Sex and the City”, teve como protagonista um personagem que estava a 400 quilômetros do local e mais interessado em criticar a emissora CNN.
O presidente Donald Trump e suas políticas para o meio ambiente, para as mulheres e para os imigrantes foram o alvo preferido de Cuomo na noite desta quarta-feira (29), no que deve ser o tom das campanhas democratas nas eleições estaduais e legislativas deste ano nos EUA.
Enquanto isso, Nixon tentava puxar os holofotes para os casos de corrupção que respingaram sobre nomes próximos ao governador.
A atriz desafia Cuomo para ser a indicação do partido Democrata ao governo de Nova York.
Ele busca concorrer ao terceiro mandato. As primárias serão realizadas no próximo dia 13 de setembro. O vencedor enfrenta o republicano Marcus Molinaro nas eleições de novembro.
Depois de passar os primeiros meses do governo Trump evitando criticar o republicano, Cuomo mudou o tom e vem se transformando na principal voz de oposição ao presidente no meio político.
Não foi diferente no debate, realizado na universidade Hofstra, em Long Island. Em vez de focar as atenções na oponente, o governador preferiu dirigir seus ataques mais ferozes ao republicano.
Logo em sua fala inicial, lembrou que ordenou que todas as bandeiras dos órgãos estaduais nova-iorquinos ficassem a meio mastro, em homenagem ao senador John McCain, morto na noite do último sábado (25).
Trump, que foi um adversário do herói da guerra do Vietnã, mandou levantar as bandeiras da Casa Branca na segunda-feira (26), para depois recuar e ordenar que fossem colocadas a meio mastro novamente.
“Governar é vida real, tem que lutar contra o terrorismo. É uma legislatura difícil, tem que lutar contra Donald Trump. É o maior risco ao estado”, afirmou. “Ele quer mudar os valores de Nova York, e a primeira linha de defesa é o governo. Você precisa saber fazer isso.”
Para Cuomo, Trump tem que ser “parado” por atacar temas tão caros aos nova-iorquinos, como mudanças climáticas, direitos das mulheres e imigração.
“Alguém tem que se opor. Alguém tem que pará-lo. Nova York sempre foi progressista, e Nova York deveria ser o estado a dizer: ‘somos o estado alternativo a Donald Trump’. E não vamos deixar ele trazer essas políticas extremamente conservadoras a Nova York.”
A defesa apaixonada do governador fez com que o moderador, o jornalista Maurice Dubois, questionasse a ambição de Cuomo à Casa Branca. Em resposta, ele afirmou que prometia não concorrer à Presidência em 2020 e ressaltou que só não cumpriria os quatro anos de governo “se Deus me matasse”.
A atriz, por sua vez, levantou como bandeira temas da ala socialista do partido Democrata, como saúde para todos, emprego com garantia federal e educação. Para ela, “é o tipo de mudança com que Nova York se importa e que o partido deveria estar abraçando”.
Com o aceno aos temas mais à esquerda, Nixon tenta conquistar o eleitorado do senador Bernard Sanders, que disputou e perdeu a indicação democrata em 2016 para Hillary Clinton. Ela tenta também acenar à ala progressista que ajudou Alexandria Ocasio-Cortez a derrotar um medalhão do partido, Joseph Crowley, em primárias realizadas em junho.
Durante o debate, Nixon também foi mais agressiva em relação ao oponente. Ela interrompeu o governador em várias ocasiões, o que fez com que Cuomo reclamasse das intervenções. “Você pode parar de me interromper?”, falou o governador, ao que a atriz respondeu: “Você pode parar de mentir?”.
A atriz aludiu aos casos de corrupção que atingiram figuras ligadas ao governador, como Joe Percoco, ex-assessor político de Cuomo condenado em março por receber mais de US$ 300 mil em propinas.
Cuomo, por sua vez, criticou o fato de Nixon dizer ser da ala socialista do partido e não divulgar seu imposto de renda. Além disso, em várias ocasiões mencionou que a vida real é diferente da ficção, aludindo ao histórico de Nixon como atriz.
Enquanto ambos batiam boca em Nova York, Trump parecia alheio ao debate democrata. Quase no mesmo momento em que começava a disputa entre Nixon e Cuomo, ele tuitava: “CNN está sendo dilacerada por dentro depois de ter sido pega em uma grande mentira e se recusar a admitir o erro. O desleixado Carl  Bernstein, um homem que vive no passado e pensa como um louco degenerado, inventando história atrás de história, é motivo de risos em todo o país! Fake News”.
Bernstein é um dos jornalistas investigativos que, ao lado de Bob Woodward, revelou o caso Watergate, que derrubou o governo de Richard Nixon
Danielle Brant, Folha de São Paulo