O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta quarta-feira que o ex-presidente Luiz Inácio Lula é tratado hoje como um mártir por estar preso em Curitiba, e, por isso, está crescendo nas pesquisas de intenção de voto para o Palácio do Planalto. Para o ministro, a suposta vitimização do petista é de responsabilidade do Judiciário e da imprensa. Ele alerta que o mesmo pode acontecer em relação a outros candidatos processados.
— Nós criamos hoje um mártir, e agora estamos querendo produzir mais. Agora tem (Jair) Bolsonaro, daqui a pouco, o (João) Amoêdo e o diabo — declarou nesta quarta-feira, um dia após o início do julgamento de uma denúncia contra Bolsonaro no STF.
Gilmar lembrou que quando Lula estava em liberdade, não estava tão bem colocado nas pesquisas. Agora, mesmo impedido de ser eleito pela Lei da Ficha Limpa, lidera as intenções de votos no país.
— Enquanto ele andava com essa caravana e não sei o que aí, ele tinha 25%. Agora, não. Está preso em Curitiba, vitimizado. Não estamos percebendo isso, que estamos tentando interferir demais na política? Será que nós somos tolos? É um quadro realmente sem noção. Mas sem noção vocês, sem noção nós, sem noção juízes e promotores — reclamou o ministro.
Gilmar responsabilizou a imprensa por não impedir o crescimento de Lula nas pesquisas. Para ele, os juízes “dão isca” para isso acontecer.
— Nós já produzimos esse desastre que aí está. Ou as pessoas não percebem que nós contribuímos com a vitimização do Lula? Estamos produzindo esse resultado que está aí. Vocês (imprensa) não estão conseguindo fazer com que as pessoas não sejam votadas. Vocês estão conseguindo fazer com que as pessoas sejam mais votadas, contribuindo para a vitimização disso. E nós, servindo de instrumento, dando isca para isso. Não pode — alertou.
Ele também criticou o fato de Lula ser listado como candidato, mesmo que esteja impedido de concorrer. A Lei da Ficha Limpa proíbe a candidatura de condenados por um tribunal de segunda instância, que é o caso do petista.
— Quando você coloca Lula com 40%, ou ganhando no primeiro turno, você está dizendo: 'banana para Lei da Ficha Limpa' — disse.
Gilmar fez as declarações a partir da pergunta de jornalistas, na entrada do STF, sobre a possibilidade de Bolsonaro assumir a presidência em caso de vitória nas urnas, mesmo sendo réu em ação penal. Pela Constituição Federal, se um presidente passar à condição de réu, deve ser licenciado no cargo. Não há previsão, no entanto, para casos inversos: um réu ser eleito presidente. Para o ministro, não haveria empecilho algum em Bolsonaro assumir o cargo.
— Eu acho que vocês estão muito assanhados com essa coisa de querer que um juiz defina questões que passam pelo processo democrático. O que a Constituição diz é que o presidente da República não poderá, depois de recebida a denúncia, continuar no cargo. Só isso. Qualquer outra situação é um devaneio — comentou.
O ministro lembrou que outros candidatos também têm processos na Justiça. E, se houver o impedimento para assumir o cargo, ninguém vai poder governar o Brasil.
— Esses dias eu vi na GloboNews que o (Fernando) Haddad também tem uma ação, o (Geraldo) Alckmin também. Vamos respeitar um pouco as coisas como elas são. Estamos abusando desse tipo de judicialização e vocês (jornalistas) têm sido um instrumento disso.
Quem é que vai governar? Quem é que passa sem um processo na administração, com toda essa “palpitologia” que está aí? Vocês conhecem algum administrador que não tem nenhum processo? — questionou.
O Globo