quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Temer rebate acusação de golpe e diz que 'não levará desaforo para casa'



Michel Temer vai ao Senado para tomar posse como presidente da República - Ueslei Marcelino / Reuters


Catarina Alencastro e Eduardo Barreto - O Globo


Presidente pede esforço de ministros para gerar empregos



Em sua primeira fala após a posse como presidente efetivo, Michel Temer disse que foi elegante durante o processo de impeachment, mas que agora não aceitará desaforos e, a quem o chamar de golpista, responderá que "golpista é você". Ele demonstrou irritação ao falar sobre o assunto. E aproveitou para dar o recado de que não irá tolerar divisões na base. Temer se referia à votação de manter o direito da presidente deposta Dilma Rousseff de exercer cargos públicos e às ameaças veladas de aliados de deixarem o governo.

— (Queria) também contestar, a partir de agora, essa coisa de golpista. Golpista é você, que está contra a Constituição. Golpe é qualquer um que proponha ruptura constitucional. Não estamos propondo ruptura constitucional. Agora, nós não vamos levar ofensa para casa. Agora, as coisas se definiram. Golpista é quem derruba a Constituição — afirmou, argumentando que o processo de impeachment durou 108 dias e 40 testemunhas de cada lado foram ouvidas.

— Tentaram muito e conseguiram, até com algum sucesso, dizer que aqui no Brasil houve golpe. Um golpe que durou 108 dias, com processo de impedimento com defesa, 40 testemunha de um lado, 40 testemunhas de outro lado, o Judiciário presidindo, o STF presente. Nós precisamos responder —completou.


As declarações de Temer foram feitas na abertura da reunião ministerial que acontece Palácio do Planalto e que ele convocou para dar suas orientações, agora como presidente definitivo, antes de embarcar para a China, onde participará da cúpula do G-20.

Sobre as ameaças de ruptura com o governo, Temer foi firme. Para ele, quem é governo tem que votar com o governo e não "fazer jogo contra o governo". Ele afirmou, no entanto, que não haverá "caça às bruxas".

— Há partidos que já avisam: vamos sair do governo. Isso é fazer jogo contra o governo. Então, estou dizendo isso muito claro para dar o exemplo de que não será tolerada essa espécie de conduta. Se há gente que não quer governo dando certo, declare-se. Essa divisão na base é inadmissível. Se é governo tem que ser governo — discursou, ao lado do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), que às vezes soprava algumas coisas em seu ouvido, e Alexandre de Moraes (Justiça).

Para Temer, não dá para aliados irem ao plenário da Câmara ou do Senado encaminhando posições sem combinar com o Executivo. O presidente disse que que queria dar esses recados antes de partir para a China e afirmou mais de uma vez que não está indo para lá "passear".

TEMER PEDE ESFORÇO PARA GERAR EMPREGOS

O presidente também afirmou que fará um governo descentralizado e pediu que cada ministro se empenhe em desburocratizar as ações de suas pastas, com um horizonte de trabalho de dois anos e quatro meses. Ele disse que os ministros fizeram "tudo muito bem feito" durante a interinidade, o que "resultou na efetivação de todos".




Michel Temer dialoga com o ministro Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, durante reunião ministerial no Palácio do Planalto - Givaldo Barbosa / Agência O Globo / 31-8-2016


— Agora, entretanto, inauguramos uma nova fase em que temos um horizonte de 2 anos e 4 meses. A partir de hoje, a cobrança será muito maior sobre o governo. E esperamos que façamos aquilo que temos alardeado: colocar o Brasil nos trilhos em todas as áreas. Não baste que o presidente centralize as decisões. Os senhores têm capacidade, já demonstraram isso, de conduzir suas pastas. Devemos sair daqui a dois anos e quatro meses com aplausos do povo brasileiro. Não será fácil — disse.

O peemedebista disse ainda que a vai procurar as bancadas dos partidos para debater medidas urgentes, como a reforma da Previdência, e apontou o combate ao desemprego como uma das prioridades de seu governo:

— Temos essa margem enorme de desempregados. São quase 12 milhões. É uma cifra assustadora. Não há coisa mais indigna que o desemprego. Isso fere um dos principios constitucionais, que é o da dignidade da pessoa humana. Quando falamos em gerar emprego, é exata e precisamente para cumprir esse preceito constitucional. Quando vemos amargor nas pessoas nas ruas, é por casua do desemprego. Na medida em que comecemos a gerar empregos, começamos a tirar esse amargor. Peço que se dediquem tendo esse horizonte de dois anos e quatro meses. Quero pedir que criem grupos para desburocratizar as medidas que são geridas pelos ministérios.



    Posse do novo Presidente do Brasil , Michel Temer ao lado dos Presidentes da Câmara Rodrigo Maia, e do Senado Renan Calheiros, e do Presidente do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski no Plenário do Senado Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo