A baderna travestida de protesto contra o impeachment – promovida anteontem e ontem em São Paulo e outras capitais – resume bem aquilo a que se reduziu o que seus organizadores chamam pomposamente de apoio popular à presidente afastada Dilma Rousseff em sua tentativa desesperada de evitar a perda do cargo. Foi muito barulho, muita violência, um enorme transtorno para milhares de pessoas, mas tudo isso produzido por pequenos grupos ligados aos chamados movimentos sociais, ao PT e ao PSOL. O povo mesmo não deu o ar de sua graça.
A capital paulista foi a principal vítima da violência. Na segunda-feira – entre as 17 horas, quando os baderneiros partiram da Praça do Ciclista em direção ao Masp, até as 20h30, quando a via foi desbloqueada –, a Avenida Paulista foi dominada naquele trecho pelo vandalismo. Os poucos mas furiosos baderneiros – em número que ficou muito longe dos fantasiosos 3 mil por eles divulgado – semearam o pânico na Paulista, justamente no horário em que é maior ali a concentração de pessoas, saindo dos escritórios em busca de condução para voltar para suas casas.
Os baderneiros montaram barricadas e colocaram fogo em sacos de lixo para bloquear a Paulista. A Polícia Militar (PM) só agiu com rigor a partir das 19h30, quando a Tropa de Choque decidiu detê-los na altura do Masp, para impedir que tomassem a Avenida Brigadeiro Luís Antônio em direção ao Parque do Ibirapuera. Para dispersá-los, usou bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos d’água. A maioria pegou então a Rua da Consolação causando distúrbios até a Praça Roosevelt.
Na terça-feira, a baderna continuou com igual violência, no começo da manhã, por volta das 6h30, em pontos também fundamentais do sistema viário – Marginais do Tietê e do Pinheiros, Rodovias Raposo Tavares e Régis Bittencourt, Ponte Eusébio Matoso e Radial Leste –, com o objetivo de tumultuar o trânsito em vastas áreas da cidade. Essas vias foram bloqueadas por pneus incendiados.
Roteiro semelhante foi seguido em Brasília, Rio, Porto Alegre e Fortaleza. E sempre com a mesma tática: poucos manifestantes, mas violentos e bem organizados, capazes por isso de assustar a população e dar a impressão de que uma multidão indignada tomou as ruas. A tropa de choque das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, integrada por militantes dos chamados “movimentos sociais”, como o Movimento dos Sem-Terra (MST) e Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do PT e do PSOL, tem larga experiência nisso.
O MTST, por exemplo – que se preocupa muito mais com delirantes projetos revolucionários do que com os sem-teto, estes apenas massa de manobra –, se tornou um reconhecido especialista em bloquear importantes vias, para tumultuar a vida da cidade, semear o pânico na população com atos de vandalismo, ou cercar prédios públicos, como fez com a Câmara Municipal para constranger os vereadores a aceitar suas demandas. Isso durou e vai durar enquanto as autoridades, amedrontadas por seus arreganhos, impedirem que as forças de segurança, sempre dentro da lei, mas com o máximo rigor que ela permite, imponham a ordem ao primeiro sinal de baderna.
Esses movimentos nunca tiveram a força que insinuam e suas violentas manifestações, como as de agora contra o impeachment, estão a léguas de distância de representar, como proclamam, o sentimento da maioria da população. O que lhes sobra em atrevimento, audácia e irresponsabilidade falta em apoio popular.
Para usar uma antiga expressão dos comunistas chineses, não passam de um “tigre de papel”. Isso não os impedirá de redobrar sua violência. Ao contrário, com o fim da era do lulopetismo, que alimentou com dinheiro público os “movimentos sociais”, o caminho da baderna continuará a seduzi-los, mais ainda do que antes. Já é mais do que tempo de detê-los.