O iminente afastamento definitivo de Dilma Rousseff da Presidência da República e a consequente efetivação no cargo do presidente em exercício Michel Temer coincidem com o surgimento de indicações mais concretas de recuperação da atividade econômica. É uma coincidência que instila otimismo nos brasileiros acossados pela longa e profunda crise política, econômica, social e moral que marcou os últimos anos do governo dominado pelo PT.
Após 10 trimestres seguidos de redução, a formação bruta de capital fixo – que mede os gastos com máquinas, equipamentos e obras, ou seja, o volume de investimentos na economia – cresceu no segundo trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior, na avaliação de duas instituições, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV). Os investimentos estão crescendo em razão do aumento do consumo aparente de máquinas e investimentos. É uma variação ainda pequena, em torno de 0,4% na aferição das duas instituições, e se dá sobre uma base muito deprimida em razão da longa e aguda recessão pela qual passou a economia brasileira nos últimos dois anos e meio. Mas pode ser um sinal de que o pior já passou ou está passando.
Outro levantamento da FGV constatou que, dos 10 setores da economia que mais pesam na evolução do Produto Interno Bruto (PIB) do País, 7 dão sinais de recuperação. Nem toda essa evolução positiva se dá sobre bases sólidas e ainda são restritas a alguns segmentos. Fatores circunstanciais explicam algumas melhoras, como a da indústria automobilística, cuja produção e cujas vendas internas registram fortes baixas ao longo deste ano, mas que vem conseguindo aumentar suas exportações. Houve aumento também na produção de têxteis e calçados. No segundo trimestre, favorecida temporariamente pela taxa de câmbio, a indústria aumentou o volume físico exportado e conseguiu obter um saldo comercial positivo, o primeiro desde meados de 2013.
Mas o Indicador do Nível de Atividade (INA) da indústria paulista, a maior do País, registrou queda de 0,6% em julho, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O setor de alimentos registrou queda de 1,4% na comparação com junho; o químico, de 1,6%. No acumulado do ano, a retração da indústria alcança 9,9% em relação aos 7 primeiros meses de 2016.
Trata-se, por isso, de uma retomada da atividade ainda instável e pontual, como a descrevem alguns economistas. “Os números mostram que a recuperação não é um contínuo. Ela tem idas e vindas”, observou o superintendente de estatísticas públicas do Ibre, Aloisio Campelo Junior, ao comentar os sinais divergentes para os quais aponta o Índice de Confiança da Indústria aferido pela instituição. Melhorou a situação dos estoques, mas piorou a percepção da retomada do consumo doméstico, vital para assegurar a continuidade da recuperação da indústria.
Ainda não há sinais de que o consumo possa voltar a crescer num prazo curto, mesmo porque, como mostra a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, o desemprego continua a aumentar e a renda real média do brasileiro, a encolher.
A recuperação da economia, quando vier, não se consolidará de maneira automática nem será independente da evolução do cenário político. Ainda frágil, a confiança dos investidores só se preservará e adquirirá vigor se o ambiente para os negócios favorecer decisões empresariais de longo prazo. E isso está condicionado a decisões na esfera política que indiquem que as finanças públicas estão no rumo do equilíbrio e que as principais fontes dos déficits do governo federal estão contidas ou o serão num horizonte previsível.
O crescimento não é tarefa apenas de investidores, produtores, consumidores, mas também e sobretudo, agora que foram superados os traumas causados pelo processo de impeachment, dos governantes, dos quais o País espera decisões corretas e tempestivas.