terça-feira, 30 de agosto de 2016

Nizan Guanaes: "Rio-2016 é ponto de chegada e ponto de partida da crise, de virada"


Folha de São Paulo


O Rio de Janeiro realizou Olimpíada fabulosa num Brasil em crise. O ceticismo que antecedeu os Jogos era justificável diante da zika, da recessão, da segurança pública, da poluição na baía. Mas o otimismo também era. As crises não anulam as forças de quem as enfrenta. Podem até reforçá-las. E não faltam forças ao Brasil.

Os brasileiros, especialmente os anfitriões cariocas, enfrentaram o momento e organizaram com mérito o maior evento global. Como havíamos feito na Copa do Mundo de 2014 e faremos na Paraolimpíada que começa no dia 7.

A Olimpíada é a pauta boa do ano. Quando conquistamos o direito de sediá-la, em 2009, projetava-se a coroação de um país emergente que dava saltos de desenvolvimento, como ocorreu em Pequim-2008. Mas no meio do caminho tinha uma crise, e a Rio-2016 virou tanto um ponto de chegada quanto um ponto de partida, de virada.

Não foi uma Olimpíada pomposa e suntuosa, como a chinesa. Foi uma Olimpíada brasileira, alegre, despojada. E eficiente. Com recordes esportivos e emotivos captados em imagens incríveis distribuídas para todos os cantos do mundo em todas as mídias imagináveis.

Durante duas semanas, esse fluxo incessante e global de emoções teve raízes no Brasil. E o país ganhou muito com isso. Todos os que contribuíram com o espetáculo naquela maravilha de cenário merecem parabéns, dos invencíveis Bolt e Phelps aos indispensáveis voluntários.

Os jogos tiveram alto impacto na imagem externa do Brasil, mas também na imagem interna. Eles melhoraram o clima, deram alento à autoestima e reafirmaram nossa capacidade de realização mesmo diante de grandes dificuldades.

O trampolim olímpico projetou um país melhor e heróis que sintetizam nosso grande potencial. Os bons baianos Isaquias Queiroz, na canoagem, e Robson Conceição, no boxe, a carioca Rafaela Silva, no judô, e o paulista Thiago Braz, no salto com vara, saíram de condições de vida dificílimas, lutaram contra adversidades gigantescas e chegaram à elite mundial porque tiveram forças e oportunidades ao longo de suas vidas.

Eu me emociono pensando na história deles. E me emociono ainda mais imaginando quantos milhões de brasileiros como eles não tiveram oportunidades e por isso, só por isso, não se desenvolveram plenamente. Quanto perdemos com isso. E quanto podemos ganhar criando mais oportunidades para todas as pessoas.

Vamos agora acompanhar com o mesmo entusiasmo a Paraolimpíada e seus "novos" heróis —alguns já atletas maduros, mas ainda desconhecidos do grande público. Tenho certeza de que eles retribuirão esse apoio com muita dedicação e muitas medalhas —em 2012, nos Jogos de Londres, foram 43 no total, 21 delas de ouro.

Só o nadador Daniel Dias já ganhou 15 medalhas em Jogos Paraolímpicos, 10 delas de ouro. Terezinha Guilhermina é recordista mundial dos 100, 200 e 400 metros para cegos. Ela tem seis medalhas nos Jogos, três delas de ouro.

No futebol de 5 paraolímpico para cegos, nossa seleção é tetracampeã mundial e nunca perdeu uma partida em três edições das Paraolimpíadas.

O Brasil, portanto, já é potência na Paraolimpíada. Que agora será disputada em nossa casa, com toda essa nossa energia e o devido reconhecimento a campeões e campeãs. Já são mais de 1 milhão de ingressos vendidos.

A torcida não vai se decepcionar.