O pecuarista José Carlos Bumlai trocou 1.005 telefonemas com o ex-presidente Lula e seu staff direto nos últimos cinco anos. É o que mostra um relatório do Ministério Público Federal sobre a quebra de sigilo telefônico do empresário, autorizada pela Justiça e que abrange os últimos doze anos. As operadoras só disponibilizaram dos dados relativos aos últimos cinco anos. Essa quebra de sigilo listou todas as ligações de Bumlai para os números de telefone utilizados pelo Instituto Lula, dona Marisa, seguranças e assessores diretos do ex-presidente, incluindo o fotógrafo pessoal.
Bumlai é um personagem-chave no escândalo de corrupção na Petrobras. Amigo de Lula, tinha passe livre para entrar no Planalto a hora que bem entendesse. Fora do governo, ele participava de negociações de propina que, segundo os delatores, tinham como beneficiários o PT e pessoas próximas ao ex-presidente da República. O pecuarista está envolvido numa trama que resultou no pagamento de suborno a uma testemunha que ameaçava envolver Lula e os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho no assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André.
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Preso na operação Lava-Jato, Bumlai também é acusado de ter financiado uma mal sucedida tentativa de comprar o silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras.
A troca de ligações entre Lula e Bumlai era mais intensa em períodos nos quais os acontecimentos afetavam de alguma maneira os interesses dos dois personagens. No mês de julho de 2012, os dois trocam 22 ligações até o dia 23, data em que Bumlai consegue o empréstimo suspeito de 101 milhões de reais junto ao BNDES. Há registro de uma ligação no dia em que o BNDES registra a liberação dos recursos.
Havia intensa troca de telefonemas entre os dois todas as vezes que circulavam notícias sobre denúncias envolvendo a morte do ex-prefeito Celso Daniel. Nos dias 2 e 3 de abril de 2013, eles trocaram 18 telefonemas. Neste período, foram veiculadas notícias de que a Procuradoria do Distrito Federal ia abrir seis procedimentos para investigar o empréstimo intermediado por Bumlai para pagar a chantagem do empresário Ronan Maria Pinto, que ameaçava envolver Lula no escândalo da morte do ex-prefeito Celso Daniel.
Lula e Bumlai também se falavam sempre que algum figurão do PT ia preso. No dia 21 de março de 2014, um dia após a prisão do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, eles trocam três telefonemas. No dia 17 de março de 2015, um dia após Renato Duque ser detido, Lula e Bumlai conversam por quase quatro minutos. Essa foi a única ligação telefônica entre os dois no mês de março de 2015. Há vários outros exemplo de ligações trocadas entre os dois em períodos sensíveis para o PT e para o ex-presidente, inclusive quando o governo fazia manobras para adiar a CPI da Petrobras no Congresso.