MARCOS STRECKER - Folha de São Paulo
As novas formas de geração de energia renovável (como eólica, solar e biomassa) continuam avançando na matriz energética brasileira e foram menos afetadas pela crise econômica do que as modalidades tradicionais.
Ainda que todo o setor enfrente agora o problema de sobrecontratação (excesso de contratos) por causa da queda do consumo, o segmento de sustentáveis vai emergir da crise com melhores condições de competitividade e crescimento. Essa é visão relativamente otimista de especialistas da área.
O setor de energia viveu desde 2013 uma "tempestade perfeita", conforme relatório do Instituto Acende Brasil de junho passado, pela falta de chuvas e por atrasos na implantação de usinas, mas também por decisões erradas do governo, como política de contratação de energia inadequada e sinalização de preços inapropriada.
Esse estudo aponta vários problemas causados pela medida provisória 579, de 2012, no governo Dilma Rousseff, que levou à queda nos preços para os consumidores, mas provocou um rombo na contratação das distribuidoras.
"Foi contratada mais energia em leilões do que se precisa", diz Claudio Sales, presidente do instituto. A entidade aponta que a demanda fraca afasta o risco de desabastecimento até 2020.
O mais recente leilão de geração de energia nova, em abril, vendeu menos de 1% da oferta, que era principalmente para energia eólica.
Dos 802 projetos habilitados, somente 40 foram comprados, principalmente de pequenas centrais hidrelétricas.
LEILÕES
Mesmo assim, o setor se mostra otimista. "O mercado [de eólica] não esperava mesmo vender nesse leilão", afirma Elbia Gannoum, presidente-executiva da Abeeolica (Associação Brasileira de Energia Eólica).
"Os leilões que nos interessam, como os de reserva, ainda não foram realizados neste ano. Em geral, acontecem no segundo semestre", afirma a dirigente.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) registrou alta de 77,1% na geração de energia eólica em 2015, e a Abeeolica prevê que o segmento vai ter um aumento de capacidade instalada de 112% até 2019, apenas com contratos já firmados.
Depois dos problemas de sobrecontratação, com a expectativa da retomada econômica, espera-se que o setor se beneficie. "Para a questão de segurança do sistema, a contratação continua necessária", diz a executiva.
"O Brasil é um país que expande a sua geração sempre a partir de fontes renováveis. Quando a gente fala de contratar energia, estamos falando dessas fontes. O setor de geração coincide com o setor de renováveis."
Sales concorda: "Sem dúvida essas fontes vieram para ficar e tornaram-se rapidamente mais competitivas".
INVESTIMENTOS
Os investidores estão de olho no país, mesmo neste momento de crise. "O Brasil continua um mercado bem resiliente. O fato de você estar com o real enfraquecido é um dos fatores que favorecem a aquisição de ativos", afirma João Victor Ferraz, gerente para Energias Renováveis da consultoria EY.
Nesse momento, ele aposta que empresas que estão no país e "já compraram o risco- país" podem ser agressi- vas. E empresas atualmente com problema de caixa, como as envolvidas na Operação Lava Jato, devem se desfazer de ativos, além das vendas anunciadas da Eletrobras e da Petrobras.
"O Brasil é um mercado interessante. A energia renovável aqui é altamente competitiva em relação a outras fontes, o que não acontece, por exemplo, nos mercados europeus. Lá, ela 'fica de pé' com subsídio."
Para Ferraz, a geração solar mostra dinamismo. "O mercado solar em relação ao potencial que o Brasil tem é quase inexplorado. A maioria das ligações que a gente recebe é de empresas interessadas em solar. O eólico está mais estabelecido."
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O Brasil é a sétima nação que mais investe em energia alternativa. A liderança é da China (US$ 110,5 bilhões), com quase o dobro dos Estados Unidos (US$ 56 bilhões)
Em seguida vêm Japão, Reino Unido, Índia e Alemanha. O Brasil é seguido por África do Sul, México e Canadá, segundo a consultoria EY