Compreendo as vaias, mas não gosto dos aplausos. No diário do Congresso, depois de certos discursos, há uma rubrica entre parênteses (aplausos) que geralmente é exagerada e nem sempre tem um sentido real.
Aliás, fazendo concorrência com os aplausos, há a rubrica (risos), que me parece absolutamente cretina. É muito comum nas entrevistas com repórteres iniciantes.
Quanto aos aplausos, lembro uma pesquisa feita por um austero jornal inglês. A questão era saber qual tinha sido a maior ovação de todos os tempos. Não citaram Demóstenes, Lacordaire, Lenine, Mirabeau, padre Vieira, Cícero e outros cobras da oratória política, jurídica ou religiosa.
O primeiro lugar coube a um papagaio importado das selvas brasileiras que cantou, em original latino, a "Ave Maria", de Gounod, desbancando o tenor Gigli, e até Maria Callas. A história não guardou o nome do papagaio, mas registrou a sua notável performance.
As vaias parecem mais sinceras e em certos casos, obrigatórias. Lembro um juiz de futebol inglês, Mister Barrick, que anulou um gol do Brasil num amistoso contra o Uruguai. Grandes personagens foram também agraciados com vaias monumentais: Lula, Collor, Carlos Lacerda e outros que agora não me lembro.
Pior do que a vaia e o aplauso é o silêncio acusador das plateias. Já fui agraciado com um silêncio vexatório. Sendo cadeirante devido a um tombo em Frankfurt, me convidaram para fazer uma palestra em uma faculdade do Espírito Santo.
Estava na coxia quando o reitor me anunciou com palavras elogiosas. A turma bateu palmas com entusiasmo, mas quando entrei no palco, ao verem minha cadeira de rodas, as palmas foram morrendo e veio um silêncio aterrador. Não morri de vergonha, mas nunca mais me apresentarei numa cadeira de rodas.