IMPOPULAR O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, vai às urnas com mais de 70% dos eleitores descontentes com a sua gestão
Pedro Marcondes de Moura - IstoE
Nos últimos oito anos, a expressão “Cinturão Vermelho” foi repetidamente usada pelos principais líderes petistas. Trata-se de uma referência a um conjunto de oito cidades da Região Metropolitana de São Paulo, onde o partido nasceu e veio crescendo eleição após eleição e nas quais desde 2008 se mantém no poder. Era a partir do “Cinturão Vermelho”, com cerca de 3,5 milhões de eleitores, que os estrategistas petistas planejavam quebrar a hegemonia dos tucanos em São Paulo. As últimas pesquisas, porém, mostram que, depois de desvendada a corrupção sistêmica protagonizada pelo PT em todo o País, nas próximas eleições o partido tende a ser abatido até mesmo em seu próprio berço.
DE SAÍDA Candidato à reeleição, o prefeito Jorge Lapas deixou o PT após disputas internas. O mesmo aconteceu em Embu das ArtesCLIQUE PARA AUMENTARÉ o caso, por exemplo, da simbólica São Bernardo do Campo. Foi lá que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva surgiu politicamente liderando as greves do sindicato dos Metalúrgicos no final da década de 1970. Desde 2009, o município é administrado pelo ex-ministro e amigo pessoal de Lula, Luiz Marinho. Uma hegemonia que deve acabar. A candidatura do ex-secretário Tarcisio Secoli não engrenou. Ele ocupa a quarta posição na corrida eleitoral com 5% dos votos, segundo o Ibope. Está bem atrás do líder, Alex Manente (PPS) com 28%, e de Orlando Morando (PSDB) com 25%. Um cenário parecido com o de Mauá, Santo André, Guarulhos, Osasco, Embu das Artes, Carapicuíba e Franco da Rocha. “Seria inimaginável, há anos, pensar no PT sendo derrotado nestas cidades predominantemente de classe média B, C e D”, afirma o consultor político Gaudêncio Torquato. “Se perder este bastião na grande São Paulo e a capital, o PT não terá cacife para ser uma força antagônica ao PSDB no Estado”, complementa. É o que deve acontecer. O atual prefeito da capital, Fernando Haddad, na quarta posição nas pesquisas. Dos 8,8 milhões de eleitores, 70% estão descontentes com sua gestão, considerada péssima por 55%. Segundo especialistas, isso torna quase impossível sua reeleição.Em Guarulhos, segunda cidade mais populosa do Estado, o prefeito Sebastião Almeida conseguiu a façanha de bater o recorde negativo de Fernando Haddad. De acordo com o Ibope, sua administração é desaprovada por 85% da população. Um desgaste que se reflete na competitividade do antecessor e pré-candidato petista, Elói Pieta. Apesar de ocupar a segunda oposição, atrás de Eli Corrêa Filho (DEM), Pieta possui pouca margem para sair vitorioso e manter a hegemonia do PT de 16 anos. Um em cada dois eleitores diz não votar nele de jeito nenhum.
Impopularidade
A insatisfação do eleitor deve prejudicar ainda o prefeito de Santo André, Carlos Grana. Segundo a única pesquisa sobre a sucessão municipal registrada no TSE, realizada pela F.L.S, apenas 17,1% aprovam sua gestão. Para sucedê-lo, o eleitorado tem mostrado preferência por Aidan Ravin (PSB), que soma 29,7% das intenções de voto. Perto dali, o PT corre o risco de perder o comando de Mauá. Desde 1996, o partido foi derrotado apenas em uma eleição municipal, mas levantamentos recentes colocam o prefeito Donisete Braga em terceiro lugar na disputa.
CLIQUE PARA AUMENTARPoucos cenários se tornaram tão inusitados para o PT como o de Osasco. O prefeito Jorge Lapas deixou o partido, encerrando um ciclo petista de onze anos à frente da cidade. Migrou para o PDT. Pesou na decisão, além do desgaste da sigla pós-petrolão, as disputas internas. O grupo ligado ao ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, preso no Mensalão, brigava por mais espaço no governo e na legenda. Uma disputa em que os dois lados perderam. Pesquisa do Instituto MAS mostra o favoritismo do ex-prefeito Celso Gíglio (PSDB) com 30,3%. Candidato pelo PT, o deputado federal Valmir Prascidelli amarga a sétima colocação.Em Embu das Artes, governada há 15 anos pelo partido, o prefeito Chico Brito engrossou a debanda petista no Estado. 24 dos 72 administradores municipais paulistas eleitos pela legenda desertaram no último ano. As saídas, em sua maioria, foram motivadas por tentativas de desassociar a imagem da impopularidade petista em meio à crise ética e econômica. Chico Brito usou outra justificativa. Disse, em público, que deixou a sigla para não ter de escolher qual dos candidatos de sua base aliada apoiaria. Na prática, foi um duro golpe contra a candidatura do antecessor e ex-correligionário Geraldo Cruz. Já em Carapicuíba, o partido, que administra a cidade desde 2009, vai dividido às urnas. De um lado estará o candidato do PT, professor Everaldo. Do outro, o presidente da Câmara, Abraão Júnior, que trocou a legenda pelo PSDB neste ano para concorrer à prefeitura. Com tantos problemas acumulados nas eleições das oito cidades, o ocaso petista no chamado cinturão vermelho se torna cada vez mais próximo.