Um soco no olho, outro na boca, chutes e esganamento enquanto o oponente está no chão. Embora seja mais afeita aos ringues de MMA, e nesses casos incentivada por fãs ensandecidos, tal sequência de golpes aconteceu dentro de uma residência, foi desferida por um homem contra sua mulher e testemunhada pela filha do próprio casal, uma menina de 5 anos de idade. Fim de papo.
Fim de papo? Não quando se trata de Brasil, muito menos de Rio de Janeiro, tampouco quando envolve a avacalhada cena política carioca.
Digo, não bastasse a teimosia de Paes em apoiar Pedro Paulo, sujeito que deveria estar preso se este fosse um país digno, eis que, agora, no afã de encontrar uma figura feminina capaz de empanar os episódios de violência doméstica protagonizados pelo candidato, os grão-mestres do PMDB decidem reavivar uma tabelinha antiga, ao anunciarem a deputada estadual Cidinha Campos (PDT) como vice da chapa.
Decerto graças às mazelas que emanavam da Vila Olímpica, não atentamos como deveríamos para mais esta costura política deletéria, entretanto ela extrapola o acinte e assim precisa ser encarada.
A persona da mulher destemida e com verve irrefreável forjada por Cidinha confunde-se com a própria guinada do brizolismo no Rio de Janeiro. Não é por acaso. Maria Aparecida Campos Straus, a própria, filiou-se ao PDT em 1982 e desde então destacou-se como uma ferrenha defensora deste arremedo ideológico destinado a acabar com o Rio.
Anotem aí pois afirmo sem o menor medo de errar: para cariocas como eu, que viram de perto o populismo chinfrim asfixiar as menores fagulhas de discurso moderno que pudessem surgir, que presenciaram a institucionalização de uma ditadura da maioria e, talvez o mais grave, a formação de uma escola de políticos determinada a perpetuar Leonel Brizola, é horripilante voltar a ouvir o nome de Cidinha Campos com pompa e circunstância.
Mas, então, se Cidinha realmente provoca tanta repulsa assim, por que foi escolhida? De onde veio a indicação? Voltando à tese inicial, teriam Jorge Picciani e Sergio Cabral lembrado de suas atuações histriônicas na Alerj e então enxergado nela a candidata ideal para escudar Pedro Paulo?
Até faz sentido, vá lá, entretanto convém esquecer de vez a cartada da mulher que referenda o acusado. Quero dizer, alguém com a pachorra de, logo nas primeiras entrevistas, regurgitar boçalidades como “eu sou contra violência doméstica, mas quando é contra as pessoas desvalidas”, vamos combinar, não merece ter sua opinião sobre o tema respeitada.
Qual seria o motivo, então? Cacife moral? Mas, como, se ainda em 1994 Cidinha era alardeada aos quatro ventos como beneficiária de propina do jogo do bicho? Que fim leva a retórica da superioridade moral desta forma?
Insisto, para os cariocas da minha geração, os que nasceram no início dos anos 70, Cidinha não passa de um bolor. E, se pensarmos bem, ao atinarmos para a visível fragilidade física de Dornelles em suas últimas aparições, mesmo com a perpetuação de Moreira Franco pelos corredores do poder, a sensação que fica é de desespero. Como se estivéssemos enfiados até o gogó na areia movediça.
Pedro Paulo merece toda a repulsa possível do povo carioca, disto eu não tenho dúvida. Ainda que sua candidatura signifique a continuidade daquele que já pode ser considerado o melhor prefeito do Rio nas últimas décadas, existem situações na vida que ultrapassam todos os limites do aceitável e bater em mulher é uma delas.
Quanto a presença de Cidinha Campos, só me resta pensar em desespero, na falta de idéias de uma campanha que, se bobear, mais ajuda aos adversários do que a si mesma quando faz embarcar alguém tão fora do prumo e capaz de incitar sentimentos ruins.
Por fim, é duro admitir, mas, entre as alianças de Crivella e Garotinho, Pedro Paulo e Cidinha, sem falar no ignóbil Freixo ou no falso arrependido Molon, a melhor saída para o carioca talvez seja o Galeão.
Cidinha Campos e Brizola (Foto: Divulgação)