sexta-feira, 29 de julho de 2016

"A grande missão da Olimpíada"

Carlos José Marques - Editorial IstoE

A grande missão da Olimpíada

Ao pé da letra do ideal olímpico, nos princípios e sentimentos estabelecidos pelo criador do Jogos, o Barão de Coubertin, está marcada a mensagem que, mais do que nunca, exprime à perfeição o papel do grande evento que toma conta do Rio de Janeiro a partir desta semana. A harmonia dos povos, nesse momento convulsionado no Brasil e no mundo – de tramoias políticas, conflitos raciais, ataques terroristas, descontrole migratório e protecionismo exacerbado de algumas nações –, vem a calhar como objetivo primordial a ser perseguido pelas delegações que participam nos próximos dias das competições. A Olimpíada de 2016 pode assim se transformar em um marco e servir como intervalo em prol do bom-senso, da confraternização acima de tudo e da disputa saudável e leal (independente das diferenças ideológicas, econômicas ou de religião), fazendo jus à regra de que o importante é participar, não vencer. Nada mais adequado do que o Rio ser o palco dessa festa, liderando o intento de pacificar uma sociedade cada vez mais mergulhada no caos. Cenário de episódios de violência que já passaram do limite e de uma penúria financeira abaixo do suportável, a Cidade Maravilhosa, como é cantada em verso e prosa, precisava desse sopro de autoestima e receberá, com certeza, um enorme legado ao final do evento. Não apenas de obras faraônicas e vistosas que irão ampliar o panorama de suas atrações. Mas também um legado de aprendizado da boa organização, de civilidade e patriotismo. Os lastimáveis deslizes dos primeiros momentos, com a entrega de instalações inacabadas – banheiros quebrados, vazamentos e entulhos para todo o lado na Vila Olímpica – deverão ceder lugar a um encontro memorável, que supere as mazelas e exiba ao planeta o potencial de uma nação digna de figurar entre as melhores.
Ali nos Jogos do Rio estarão mais de 200 países reunidos, quase 50 chefes de estado, perto de 18 mil desportistas, uma infinidade de línguas, hábitos culturais e espectadores ávidos por assistir façanhas que enalteçam o potencial humano. Não por menos as Olimpíadas são classificadas como o grande espetáculo da terra. Recepcioná-la em solo nacional é um privilégio que deve encher de orgulho cada um de nós. Apesar dos pesares e percalços que cercaram a sua montagem. O brasileiro, hoje consumido por notícias de corrupção endêmica, pelas chagas da destruição econômica deixada por um governo petista tão incompetente como venal – e que ainda sofre as agruras de um desemprego em larga escala, de uma inflação lancinante, dos juros imorais e do descaso absoluto com a coisa pública -, poderá afinal colocar de lado seus problemas, por um breve espaço de tempo, para saborear o show dos atletas. Logo a seguir, sem demora, estará aberta a discussão do impeachment da presidente afastada Dilma que, a contar com a lucidez dos parlamentares sobre a decisiva etapa vivida pelo País, deverá definitivamente ser deposta. Precisamos virar em definitivo essa página de sofrimentos impostos pela anarquia do poder, restabelecendo o bom caminho das práticas republicanas e sagrando uma etapa de novas conquistas e hábitos políticos, com a moralização do estado, o resgate da credibilidade e consequente retorno ao trilho do desenvolvimento. O Rio terá uma excelente oportunidade (talvez a mais promissora delas) de se redimir com a Olimpíada. E o Brasil conseguirá o mesmo ao confirmar o impeachment.