segunda-feira, 22 de setembro de 2014

"Entre a ética e a gestão", por Jorge Maranhão

O Globo

Biografia de Marina Silva é mais eloquente que qualquer discurso ou marquetagem eleitoral

A ferramenta de monitoramento das redes da Fundação Getulio Vargas tem mostrado com eloquência que os temas da transparência e do combate à corrupção vieram para ficar. Assim, análises que atribuíam a ascensão de Marina Silva à sua superexposição de mídia ficaram prejudicadas. O buraco é mais embaixo.

Além de uma demanda histórica por ética na política, há a figura da própria Marina. Sua biografia é mais eloquente que qualquer discurso ou marquetagem eleitoral. Querem um teste? Suprimam o som dos debates televisivos e perguntem a um popular quem lhe parece mais confiável entre os candidatos. Assim como qualquer cidadão brasileiro que vive de sua profissão, Marina foi seringueira, doméstica e professora antes de ser política. 

Como qualquer um de nós, que vive de seu trabalho e tem um nome a zelar, ao contrário do “caçador de marajás” ou do que denunciou “os 300 picaretas” antes de se juntar a eles. 

Como diz o ditado popular, “diz-me com quem andas, e eu te direi quem és!"

O eleitor resolveu cobrar o que fizeram Lula, Collor, Dilma e até mesmo Aécio Neves, noves fora a vida de políticos profissionais. Já buscaram o pão com o suor do rosto ou sempre viveram às custas do poder público? Quanto mais os analistas criticam a candidata por não ter jogo de cintura e não abrir mão de seus princípios e valores, mais a sua figura ascética ganha adesão. Não consideram que talvez o país esteja cansado de indistinção moral, da geleia geral das coalizões espúrias e das alianças de bordel. Reclamam de sua inexperiência gerencial, mesmo diante das denúncias de que a atual gerentona quase quebra a Petrobras?!

Quais devem ser os atributos mais importantes para o bom exercício da chefia do Estado brasileiro? Senso de justiça, autoridade inatacável, reputação ilibada, como exige a Carta Magna? Ou a capacidade de tocar obras e planos de governo que, por natureza, podem e devem ser delegados a gestores públicos de carreira?

É chegada a hora de se superar o falso dilema entre gestão e ética. Pois, se ética é pressuposto da boa gestão, gestão sem ética é indigestão. E, a julgar pela consolidação de sua posição nas pesquisas, os ventos pelo resgate da ética na política estão soprando em direção à Morena. Marina que nessa terra pintou quando o povo da velha política cansou!

E quando o povo se aborrece, não sabe perdoar. Já desculpou muita coisa. Pra fazer como pediu o nosso poeta maior, que tinha dor no nome e doce na voz: Morena Marina, você faça tudo, mas faça o favor: não pinte esse rosto que é nosso e bonito com o que Deus lhe deu! Simples assim, como lhe cobra a mais bela canção de Caymmi, e que de há muito mora no coração de todos nós!

Jorge Maranhão é diretor do Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão