domingo, 18 de junho de 2017

Segundo melhor endereço de Washington é palco de polêmicas

Larry Downing - 24.jan.1999/Reuters
Monica Lewinsky (centro) no corredor principal do hotel Mayflower Hotel, em Washington
Monica Lewinsky (centro) no corredor principal do hotel Mayflower Hotel, em Washington


Isabel Fleck - Folha de São Paulo

Batizado pelo ex-presidente Harry S. Truman (1945-1953) como o "segundo melhor endereço de Washington", atrás somente da Casa Branca, o luxuoso hotel Mayflower voltou a ser o centro dos escândalos da capital.

A polêmica da vez é o contato, só agora revelado, entre o secretário de Justiça, Jeff Sessions, e o embaixador russo, Sergei Kislyak, durante um evento de campanha de Trump no hotel, em abril de 2016. O endereço foi citado 12 vezes na terça-feira (12) durante uma sessão no Senado com Sessions.

Em 1999, foram os parlamentares que se deslocaram até o hotel para sabatinar, na suíte presidencial –com diária a US$ 820 (R$ 2.700)–, a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky sobre seu affair com Bill Clinton. Três anos antes, o Mayflower havia sido palco da recepção na qual os dois se abraçaram, num momento capturado em vídeo que depois circularia à exaustão.

Era ainda no cinco estrelas da Connecticut Avenue, a 800 metros da residência oficial do presidente, que John F. Kennedy (1961-1963) se encontrava com uma de suas amantes, Judith Campbell Exner, quando estava no poder.

As espaçosas suítes também serviram de base a uma rede de prostituição de luxo revelada no escândalo que levou, em 2008, à queda do então governador de Nova York, Eliot Spitzer. E mais: no início dos anos 1990, foi ali que flagraram o prefeito do Distrito de Columbia à época, Marion Barry, fumando crack.

Os interessados em conferir, por ao menos uma noite, a mística que ronda o Mayflower terão de desembolsar, no mínimo, US$ 360 (R$ 1.195). Ou então podem se contentar com um almoço no restaurante Edgar, no térreo do hotel, com pratos em torno de US$ 25 –como J. Edgar Hoover, ex-diretor do FBI, fez diariamente por 20 dos 37 anos em que comandou o órgão.


TOUR DOS ESCÂNDALOS

Em menos de seis meses, o governo de Donald Trump estabeleceu, involuntariamente, um novo roteiro turístico em Washington: o dos escândalos da sua gestão.

O trajeto pode ser percorrido a pé e tem como ponto central a avenida Pensilvânia, que liga a Casa Branca ao Congresso. O "tour" começa em frente ao Capitólio. Ali o presidente tomou posse diante de um público bem inferior ao que sua equipe depois continuou afirmando que comparecera. No Senado, o Comitê de Inteligência hoje investiga as conexões de assessores de Trump com a Rússia.

Dali, siga pela Pensilvânia até o prédio do FBI, cujo antigo diretor, James Comey, foi demitido por Trump em maio (numa decisão amplamente criticada).

Comey estava à frente da investigação sobre os elos entre a equipe do republicano e Moscou –e diz estar certo de que foi dispensado porque Trump não aprovou a forma como ele a estava conduzindo.


PRÉDIO DOS CORREIOS

Na quadra seguinte, contemple a bela fachada do Trump International Hotel, no histórico prédio que abrigou os correios e que foi um dos principais pontos turísticos da cidade até o ano passado. O estabelecimento está no centro da ação que dois procuradores-gerais movem contra a União por pagamentos feitos por governos estrangeiros a empresas de Trump.

Você estará então a dez minutos da Casa Branca, onde se concentram as principais polêmicas, como a conversa em que Trump teria sugerido a Comey que encerrasse uma investigação federal, e onde a filha do presidente, Ivanka, assumiu controverso papel dentro do governo.


CASA RUSSA

Encerre o passeio diante de uma mansão estilo Beaux-Arts na rua 16, a três quadras da residência do presidente.

Um carro preto parado ao lado da casa com o motor ligado, a qualquer hora do dia, e pelo menos oito câmeras no jardim da frente ajudarão a identificar a residência do embaixador russo nos EUA, Sergei Kislyak.

A passagem pelo local já se justificaria pelo fato de Kislyak ter protagonizado a grande maioria dos escândalos do governo Trump até agora. Mas a proximidade da Casa Branca e a intensa vigilância aguçam ainda mais a imaginação sobre o que teria sobrado da Guerra Fria naquela casa, que a certa altura abrigou a embaixada soviética.