sexta-feira, 9 de junho de 2017

Renato Duque diz que Graça Foster negociou propina ao PT

Narley Resende e Fernando Garcel - ParanáPortal



Capturar

O ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, afirma que a ex-presidente da Petrobras Graça Foster aceitou favorecer a empresa italiana Saipem na contratação de obras da Petrobras em troca de propina para o PT. Eles receberiam 2 milhões de dólares, mas a propina não foi paga pela empresa.
Duque prestou depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, na Justiça Federal em Curitiba, nesta sexta-feira (9), na ação penal que investiga a empresa offshore Hayley.
No depoimento, Duque afirma que Graça Foster o procurou para pedir ajuda logo que assumiu o cargo. “Ela me chamou no gabinete e disse o seguinte… ‘eu sei o que foi feito, eu sei o que é feito e eu sei o que tem que ser feito. Eu só não sei fazer’. Eu preciso da sua ajuda pra que isso aconteça”, declarou. “Ela me pedia ajudava para que as coisas acontecessem, que ela não sabia fazer, sabia que fazia, mas não sabia fazer”, afirmou Duque.
Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
Para ajudar a presidente, Duque procurou o ex-senador e ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra (PT), morto em outubro de 2015, e informou sobre os projetos da Saipem que precisavam do apoio da estatal. O ex-presidente procurou Graça Foster e fez com que os contratos fossem celebrados. “Nesses dois processos haveria uma participação de 0,5% do valor do contrato para o Partido dos Trabalhadores”, declarou. “O Dutra conversou com a Graça e voltou com a resposta afirmativa, disse olha, ela tá de acordo, vai ajudar naquilo que puder, e fica certo então 0,5% pro Partido dos Trabalhadores. Falou, é isso? É isso”, disse Duque.
Na sequência, o ex-presidente da Petrobras teria afirmado que Duque seria responsável por separar 2 milhões de dólares que seriam divididos em igual parte entre Dutra e Foster. “Que você separe mais dois milhões de dólares. Um pra mim e um pra ela. Você guarde isso com você. O meu, eu vou precisar em 2014 pra campanha em Sergipe, o dela eu não sei qual vai ser a destinação”, parafraseou Duque no depoimento. “Tudo bem, tá combinado. Tá fechado assim”, finalizou.
Durante o depoimento, Duque reforçou que os valores combinados não foram pagos pela Saipem.
Procurada, a assessoria de imprensa de Graça Foster informou que deve se posicionar nas próximas horas.

Denúncia

A denúncia dessa ação penal deu origem a 14ª fase da Operação Lava Jato. Segundo os procuradores, os denunciados participaram de um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro para favorecer a empresa italiana Saipem. As investigações apontam que os réus usavam transferências bancárias entre a Hayley/SA, na Suíça, para a brasileira Hayley do Brasil que depois comprava obras de arte e as entregava para o ex-diretor da Petrobras, Renato Duque.
De acordo com a denúncia, a Hayley era usada para operar a propina de Duque e lavar dinheiro. A offshore tem sede no Uruguai e sua conta bancária ficava na Suíça.
Quem controlava a empresa era João Bernardi que foi acusado pelos procuradores de pagar propina ao ex-diretor. Segundo as investigações, ele oferecia os pagamentos em troca da celebração de um contrato de um gasoduto da Petrobras, localizado na Bacia de Santos, com sua empresa, a Saipem.

Renato Duque

Duque foi preso no dia 16 de março de 2015 por determinação de Moro. Ele está preso no Complexo Médico-Penal, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Segundo o juiz, mesmo após a deflagração da operação, em março de 2014, Duque continuou cometendo crime de lavagem de dinheiro, ocultando os valores oriundos de propinas em contas secretas no exterior, por meio de empresas offshore. Condenado em diversas ações penais da Lava Jato, o somatório das penas de Duque já passou de 40 anos. Ele tenta acordo de colaboração premiada.