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Apesar da alta da Bolsa, investidor fica mais conservador neste ano, diz estudo |
DANIELLE BRANT - Folha de São Paulo
A expressiva valorização de 39% da Bolsa brasileira em 2016 não foi suficiente para que o investidor brasileiro trocasse a segurança da renda fixa pelo risco das ações neste ano, mostram dados da gestora Franklin Templeton.
Pelo contrário: o medo de perder dinheiro está predominando nas estratégias de investimentos em 2017, de acordo com o estudo, que consultou um total de 520 pessoas com pelo menos R$ 50 mil aplicados.
Em 2016, 69,8% tinham investimentos com risco baixíssimo ou moderado. Esse percentual subiu para 73,4% neste ano. Aqueles que adotavam uma atitude mais agressiva recuaram de 19% para 16,2%.
Quando comparada com 2014, essa migração fica ainda mais evidente: o perfil mais conservador somava 57%, enquanto a fatia mais arriscada totalizava 36%.
Para Marcus Vinicius Gonçalves, presidente da Franklin Templeton no Brasil, parte desse movimento tem a ver com a falta de indicadores que comprovem que o país, de fato, saiu da recessão na qual está mergulhado há dois anos.
O PIB brasileiro cresceu 1% de janeiro a março, encerrando uma sequência de oito trimestres seguidos de queda.
Porém, analistas consideram que a recessão pode não ter terminado, tanto pela crise política agravada após a delação da JBS envolvendo o presidente Michel Temer, como porque o resultado se deveu principalmente por causa da forte safra agrícola, que fez o setor agropecuário avançar 13,4% no período.
"A melhora do mercado se deu em cima de expectativas, mas faltam dados concretos evidenciando a recuperação da economia", diz Gonçalves.
CENÁRIO POLÍTICO
Somado a isso, o risco político também contribuiu para aumentar o conservadorismo, afirma. Na pesquisa, por exemplo, as incertezas políticas desbancaram a inflação como principal fonte de preocupação dos investidores.
O estudo foi finalizado em março, ou seja, não capturou as recentes turbulências políticas provocadas pela delação da JBS. Logo após a relevação da denúncia, a Bolsa teve uma forte queda e chegou a interromper os negócios, algo que não acontecia desde 2008, na crise global.
Para Gonçalves, o pânico disseminado no mercado financeiro não deve ter tornado o investidor ainda mais conservador. "Acho que não houve mudança na estratégia de investimento. Ele deve ficar em compasso de espera aguardando uma sinalização sobre o cenário de juros", diz.
Na quarta-feira (31), o Banco Central decidiu reduzir a taxa básica de juros de 11,25% para 10,25%, e indicou que vai frear o ritmo de cortes. A diminuição deve ter impacto no retorno oferecido por aplicações de renda fixa, considerando que a maior parte delas tem como referência a Selic ou o CDI, que tem forte relação com o juro básico.
"Ainda há uma ilusão monetária de juros em dois dígitos. Enquanto o investidor recebe 1% ao mês na renda fixa, ele não se preocupa, porque considera condizente com o risco que está tomando", diz. "Há uma zona de conforto, e o investidor acha que, só porque teve ganho de dois dígito até então, vai ter daqui para frente. Vai ser um grande choque de realidade."