terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Nos últimos 50 anos, apenas dois musicais venceram o Oscar de melhor filme

André Miranda - O Globo

"La La Land"
Tem muita gente por aí feliz cantando as músicas de "La La Land" e já dando como certa sua vitória no Oscar. Mas o buraco é mais embaixo. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA nem de longe se empolga com musicais como fazia no passado. Nos últimos 50 anos, apenas duas produções do gênero venceram a estatueta de melhor filme. Duas e nada mais. Antes de 1967, a coisa era um pouco melhor, mas nem tanto. De 88 Oscars dados até hoje, somente dez foram para musicais. No total foram 32 indicações.
Naturalmente a situação dos musicais piorou quando a produção diminuiu. A época de ouro do gênero foi entre as décadas de 1930 e 1950. Povo ia ao cinema para se imaginar no lugar de gente como Fred Astaire, Judy Garland, Cyd Charisse, Ginger Rogers, Gene Kelly, Ann Miller, Donald O'Connor e Debbie Reynolds. Todo mundo queria cantar e sapatear, e eu imagino como deveria ser insuportável ir numa festinha de escola em que algum casal tentasse dançar como Astaire e Cyd Charisse em "A roda da fortuna" (1953).
Até que, no fim dos anos 1960, enquanto uma turma de novos diretores americanos levavam tramas mais realistas para a tela, a fantasia dos musicais começou a fracassar. Os produtores estavam tão malucos que fizeram até um musical com o Clint Eastwood: "Os aventureiros do ouro", de Joshua Logan, de 1969. Alguém imagina Clint Eastwood cantando? Pois vejam abaixo, ele usava chapéu de caubói para falar com árvores:


Como consequência, o Oscar passou a esnobar os musicais em suas premiações. O último vencedor de melhor filme foi "Chicago" (2002), de Rob Marshall. O penúltimo foi "Oliver!" (1968), de Carol Reed. Antes deles, receberam o prêmio principal "A noviça rebelde" (1965), "Minha bela dama" (mais conhecido pelo título original, "My fair lady", de 1964), "Amor, sublime amor" ("West side story", 1961), "Gigi" (1958), "Sinfonia de Paris" (1951), "O bom pastor" (1944), "Ziegfeld - O criador de estrelas" (1936) e "Melodia da Broadway" (1929).
Por isso, "La La Land", o filme do diretor Damien Chazelle sobre os sonhos e a paixão entre uma aspirante a atriz e um pianista de jazz, precisa lutar contra a História. As indicações ao Oscar serão anunciadas em 24 de janeiro, e a premiação acontece em 26 de fevereiro. Já "La La Land" estreia no Brasil nesta quinta-feira, dia 19.