terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Autor de massacre em igreja negra dos EUA é sentenciado à morte



Dylann Roof queima a bandeira dos EUA em uma das fotos do site - Reuters


O Globo


Supremacista, Dylann Roof inaugura pena capital federal por crimes de ódio



CHARLESTON - O autor de um massacre em 2015 que deixou nove mortos em uma igreja negra da Carolina do Sul foi condenado à pena de morte pelo crime. O jovem Dylann Roof, autoproclamado supremacista branco, é o primeiro condenado no sistema federal a sofrer pena capital por crimes de ódio. Ele enfrentava 33 acusações e se representou no tribunal, não demonstrando arrependimento e nem pedindo abrandamento de sentença.

Roof abriu fogo na histórica igreja metodista episcopal africana Madre Emanuel, em Charleston, na Carolina do Sul, na noite de 17 de junho de 2015. Nove pessoas morreram, incluindo o pastor da igreja, na ação que foi considerada um crime de ódio contra negros. O suspeito foi preso no dia seguinte, na Carolina do Norte.

Durante a fase final do julgamento, Roof teve aval para representar a si mesmo como advogado. No encerramento do julgamento, nesta terça-feira, disse que não se arrepende de nada que fez, após ser considerado culpado em dezembro pelas 33 acusações que pesavam sobre ele, entre elas crime de ódio.

— Ninguém me obrigou — afirmou ele.

Em sua defesa, Roof disse que o ódio sentido contra ele pelas famílias das vítimas, pessoas em geral, e pelo procurador é similar ao sentimento que ele teve para com os fiéis.

E acrescentou, em um discurso pouco coerente, que sua atitude foi um impulso natural.

— Acredito que possamos dizer que ninguém em sã consciência quer ir a uma igreja matar pessoas. O que digo é que ninguém que odeie alguém tem uma boa razão para fazer isso — afirmou. — Tenho o direito de pedir a vocês prisão perpétua, porém não sei de que forma isso serviria. Só um de vocês precisa estar em desacordo com o resto do júri.




Pessoas visitam a igreja metodista de Charleston, na Carolina do Sul, onde nove pessoas foram assassinadas em um massacre - John Moore / AFP / 15/07/2015



TENTATIVA DE JUSTIFICAR RACISMO

O réu disse, em confissão gravada após sua detenção, que o ataque foi uma represália pelos supostos crimes cometidos pelos negros contra os brancos.

"Alguém tinha que fazê-lo porque, sabe, os negros estão matando os brancos toda hora na rua e estão violentando as mulheres brancas", disse Roof, calmo e sem demonstrar emoções, ao oficial do FBI que o interrogou.

Três pessoas sobreviveram ao massacre na igreja que era símbolo da luta dos negros contra a escravidão.

"Ele os executou porque acreditava que não eram mais que animais", disse o assistente da promotoria, Nathan Williams, em suas alegações finais, esta quinta-feira, em um tribunal federal de Charleston. "Suas ações na igreja são o reflexo da imensidão do seu ódio".

O agente do FBI Joseph Hamski testemunhou que Roof tinha visitado meia dúzia de vezes a igreja nos meses que antecederam o ataque, antes de fazer o download de um livro da organização racista Ku Klux Klan.

Roof documentou estas viagens com fotos, nas quais posou em locais históricos vinculados à época da escravidão. O jovem publicou muitas imagens em sua página na internet, que continha um manifesto racista contra negros e minorias.

"A segregação não era ruim", escreveu. "Era uma medida defensiva. Não só nos protegia de interagir com eles e sermos feridos, mas também nos protegia de cair ao seu nível".




Dylann Storm Roof foi após matar nove pessoas em uma igreja da comunidade negra de Charleston, na Carolina do Sul - REUTERS