O Senado está fazendo as preparações nas estruturas para receber a nova senadora por São Paulo, Mara Gabrilli (PSDB), única parlamentar tetraplégica do Congresso.
Apesar de se dedicar a temas ligados a pessoas com deficiência e doenças raras, elege como metas principais ações para combate a corrupção e avaliação da qualidade dos gastos públicos.
Mesmo com a diminuição da bancada tucana, ela afirma ver com bons olhos a renovação que varreu caciques do mapa político. "Foi uma sinalização de que a população estava cansada".
A senhora cresceu na corrida ao Senado e ultrapassou o favorito Eduardo Suplicy (PT). A que se deve o resultado?
Eu acredito que foi um reconhecimento do meu trabalho, que é tão amplo, diz respeito a tantos setores. Eu entrei na política por conta das pessoas com deficiência, mas para defender um público que é tão vulnerável tive que me aprofundar na saúde, educação, esporte e isso acabou fazendo uma defesa de todo cidadão. Tenho uma atuação muito impactante no combate à corrupção por conta da minha história, em relação a pessoas com deficiência, por conta minha história.
Qual será a principal meta do seu mandato?
Eu chego com propostas de criação de uma criação comissão permanente de combate a corrupção. É o primeiro passo. O segundo passo é uma frente parlamentar que trabalhe para avaliar qualidade de gasto público. O que a gente vê hoje é uma fiscalização bem feita do gasto público feita pelos tribunais de conta. A gente não avalia a qualidade. Se tiver um termômetro de qualidade dos gastos públicos, a gente vai dar um salto de qualidade para fazer um gasto mais estratégico.
Nas eleições, vários caciques foram varridos do Congresso. Como vê essa mudança?
Com muitos bons olhos. O povo brasileiro está pedindo mudança. Isso está acontecendo. A gente teve caciques de toda sorte [que não foram eleitos]... Pessoas envolvidas na Lava Jato, outros não, outros que faziam trabalhos de qualidade. Foi uma sinalização da população de que tava cansada do modus operandi.
O PSDB também diminuiu. Como será atuar numa bancada menor?
Eu nunca fui deputada com bancada pequena. Não tenho essa experiência. Mas o que eu posso te dizer é que o PSDB sempre teve quadros diferenciados e de qualidade. A bancada, embora pequena, continua de qualidade.
A bancada conservadora cresceu e pretende propor temas como redução da maioridade penal e veto a discussão de questões de gênero nas escolas. Como pretende se posicionar nesses assuntos?
Do mesmo jeito que venho me posicionando. Trabalho para todo cidadão. Nunca vou concordar com pegar assunto, enfiar debaixo do tapete e fingir que não existe. Jamais sonegar informação nas escolas é diferente de doutrinar. Levar informação é obrigação. É claro que tenho posições: redução da maioridade eu votei na Câmara, votei pela redução em caso de crime doloso contra a vida.
Seria a favor de uma redução irrestrita?
Não concordo redução irrestrita. Essa é a única redução que concordo, no caso de crime doloso contra a vida.
Há a possibilidade de a senhora apoiar Jair Bolsonaro no segundo turno?
Olha, eu, assim, o PT jamais vai ter meu apoio. E eu jamais apoio um candidato que tenha os pensamentos totalmente opostos aos meus [como o Bolsonaro]. Porém, já deixei claro que apoio João Doria, é o meu candidato a governador, independentemente de quem ele apoie [Doria apoia Bolsonaro]. Não quer dizer que eu apoie o Bolsonaro.
Num eventual governo Bolsonaro, tentaria diálogo?
Não há dúvida. Fui a única parlamentar que a Dilma [Rousseff] atendeu sozinha. A única. Para quê? Para dialogar. O problema eram as mães que tinham filho com microcefalia. Não tô nem aí que ela era PT. Um dia, eu não tive deficiência. Eu sei o que é não conhecer determinadas coisas. Então, se vivo situações, segmentos, seria desrespeitoso com meu país não tentar fazer diálogo.
Como vê a lavação de roupa suja entre dois dos principais membros da legenda, Geraldo Alckmin e João Doria?
A gente está num momento que o PSDB precisa se unir. O PSDB precisa ter mais respeito com a opinião de cada um dentro do partido. Andei lendo o que saiu da reunião, foi um exagero. Muitas palavras não foram ditas, não foi naquele nível. É inegável que o PSDB precisa se unir. Temos três candidatos ao governo tucanos que estão no segundo turno. Ou seja, ainda é uma oportunidade, uma escolha da população. A gente tem que focar nisso, cada governador, candidato está num estado diferente. O Brasil é um continente. Cada um tem adversários diferentes. Não se pode querer que todos funcionem do mesmo jeito.