segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Dinheiro está voltando para o Brasil, diz executivo da Bolsa de Nova York

NOVA YORK
O dinheiro está voltando para o Brasil, afirma Alexandre Ibrahim, responsável por mercados internacionais da mais importante Bolsa do mundo, a Nyse, Bolsa de Valores de Nova York. A avaliação leva em consideração um termômetro americano: o crescente interesse de empresas brasileiras em fazer ofertas de ações nos Estados Unidos para se capitalizar e investir. 
Em entrevista à Folha, Ibrahim contou ter identificado uma diferença de ânimo dos empresários brasileiros durante sua mais recente visita a São Paulo, na semana encerrada em 19 de outubro.
“Eu fiquei três dias em São Paulo. Acho que as coisas estão mudando um pouco, e estão mudando mais rápido do que esperávamos, para ser honesto”, afirmou.
Alex Ibrahim, executivo da Nyse
Alex Ibrahim, executivo da Nyse - Eugenio Savio/Valor
“Fiquei muito surpreso, porque estive no Brasil dois meses antes, e o sentimento não era tão otimista quanto na semana passada. O interesse de empresários em falar conosco foi incrível.”
Esse interesse está tão elevado, diz, que, no dia em que a entrevista foi realizada, na quinta-feira (25), uma empresa de tecnologia brasileira estava na Bolsa americana procurando conhecer o processo. “Eu estava com uma delas nesta manhã, antes de conversar com você. Estava aqui, visitando a gente”, conta.
Na Nyse, o Brasil é o quarto país com mais empresas listadas —31 no total. Fica atrás de Canadá, Grande China —que inclui Hong Kong, Macau e Taiwan— e Reino Unido.
Segundo ele, as empresas estão começando a se aproximar não só da Nyse para entender o processo, mas também de bancos e advogados que poderão ajudar nos eventuais IPOs (ofertas públicas iniciais de ações) na Bolsa americana.
Ibrahim vê dinheiro voltando para o Brasil. Vai para empresas de tecnologia, como a PagSeguro, que levantou US$ 2,3 bilhões no início do ano no maior IPO realizado por um grupo estrangeiro em Wall Street desde o gigante chinês do comércio online Alibaba, que levantou US$ 25 bilhões (R$ 79 bilhões) em 2014. Vê também recursos fluindo para gigantes como Vale e Petrobras, e para empresas que dependem do consumo interno, como as aéreas Gol e Azul.
“Eles veem o Brasil como uma boa oportunidade neste ponto. E também porque o mercado esteve tão turbulento que os investidores podem ver o Brasil subvalorizado e é o tempo certo de entrar”, diz.
A leitura de Ibrahim é que a eleição teve impacto momentâneo e natural. “Toda vez que há eleições presidenciais —vimos o que aconteceu no Chile, Peru, México, na América Latina em geral— os mercados tendem a fechar. Mesmo aqui nos EUA. Em 2016, tivemos uma eleição presidencial e as coisas desaceleraram”, diz.
Ele avalia que, se tudo ocorrer bem no processo de transição política, o ano de 2019 pode ser muito bom e o Brasil pode se tornar um grande mercado para a Nyse.
Ibrahim afirma que, pelo tamanho do país, há um grande apetite por ativos brasileiros. 
“O Brasil é um grande país. Há muitas oportunidades lá. Espero que as coisas se estabilizem e os investidores fiquem ainda mais confortáveis em participar no crescimento da economia brasileira, comprando ações de companhias abertas na Nyse”, disse.
Agora, a retomada esperada deve propiciar uma diversificação. Ele vê espaço para mais empresas de tecnologia na Bolsa. “O Brasil poderia, de longe, estar melhor representado porque há vários subsetores inovando e muitas fintechs (empresas de tecnologia da área financeira).

Danielle Brant, Folha de São Paulo