segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Angela Merkel desiste de concorrer a novo mandato de chanceler em 2021

Merkel deixa uma entrevista coletiva nesta segunda-feira, um dia depois das eleições regionais em Hesse Foto: MARKUS HEINE / AFP
Merkel deixa uma entrevista coletiva nesta segunda-feira, um dia depois das eleições regionais em Hesse Foto: MARKUS HEINE / AFP


BERLIM - Angela Merkel anunciou nesta segunda-feira a membros do seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), que não buscará um novo mandato como chanceler em 2021. Ela também afirmou que deixará a presidência da legenda após uma conferência da CDU marcada para Hamburgo em dezembro.

Os anúncios abrem caminho para o fim de uma era de influência preponderante da Alemanha na Europa. Merkel, que está desde 2005 no cargo, se destacou como a mais poderosa política europeia no período.
— Tenho o firme sentimento de que chegou a hora de abrir um novo capítulo — disse Merkel a repórteres em Berlim, depois de um encontro com lideranças da CDU.
As declarações aconteceram em um encontro com lideranças partidárias e foram feitas após duas derrotas impactantes em eleições regionais na Alemanha nas últimas semanas. Depois de ver o tamanho do seu sócio conservador, a União Social-Cristã, se reduzir na Bavária, neste domingo a CDU teve mais uma derrota significativa no estado de Hesse.
— Eu assumo total responsabilidade pelo que aconteceu desde as últimas eleições gerais —  afirmou a chanceler, referindo-se à votação de setembro do ano passado, na qual nenhum dos grandes partidos obteve maioria, o que obrigou a CDU a formar mais um governo de coalizão com o Partido Social-Democrata, seus adversários históricos na política alemã.
Merkel sempre enfatizou que a liderança do partido e o cargo de líder do governo deveriam estar juntos. Sua decisão de abrir mão da liderança do partido deve desencadear uma disputa pelo domínio da legenda, uma das siglas de maior influência do continente.
Possíveis candidatos para a sua sucessão na liderança partidária incluem a secretária-geral da CDU Annegret Kramp-Karrenbauer, a ministra de Saúde Jens Spahn, o primeiro-ministro da Renânia do Norte-Vestfália Armin Laschet e o ex-líder do grupo parlamentar da CDU Friedrich Merz.
Kramp-Karrenbauer é a candidata favorita de Merkel. Apelidada de "Mini-Merkel" pela imprensa alemã por seu estilo sóbrio, ela foi designada secretária-geral do partido em fevereiro, uma manobra considerada parte de um plano de sucessão. De 2011 a 2018, ela foi a premier do pequeno estado de Sarre, na fronteira com a França.
Merz, por sua vez, é o líder da ala direita do partido e o principal rival interno de Merkel na CDU. Entre 2000 e 2002, ele foi o líder da CDU no Parlamento, até ser substituído pela atual chanceler. O advogado financeiro de 62 anos lidera a fração que deseja levar o partido de volta às suas raízes conservadoras, insatisfeita pela guinada ao centro promovida por Merkel, sobretudo no que diz respeito à imigração.
Desde a crise migratória de 2015, a Alemanha recebeu mais de 1 milhão de imigrantes, quantidade maior do que qualquer país europeu. Setores do partido atribuem a isso o crescimento da sigla de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
— Friedrich Merz abre uma imensa perspectiva para a CDU e marca posição contra a erosão crescente do partido para a AfD — disse o ministro de Estado e ex-secretário-geral da União Social-Cristã (CSU), coligada à CDU, Thomas Goppel.
Esta erosão foi vista nas eleições regionais de Hesse, onde a CDU viu seu percentual de votos cair em mais de 11 pontos percentuais. No mês passado, um aliado próximo de Merkel, Volker Kauder, foi retirado do posto de líder do grupo parlamentar da CDU, para ser substituído por Ralph Brinkhaus, um relativo desconhecido.
A Afd atualmente está representada nos 16 parlamentos regionais alemães.
Já Spahn é um dos principais críticos das políticas imigratórias de Merkel dentro da CDU e uma estrela ascendente no partido. Aos 38 anos, ele se afirma como um político que vem de zonas rurais e é cético dos liberais urbanos e da elite globalista, o que, por um lado, atrai a simpatia dos conservadores da sigla, mas afasta de si os defensores de Merkel. Sua indicação para ministro da Saúde foi entendida como um movimento da chanceler para trazê-lo para perto de si.
A trajetória descendente da CDU é compartilhada por seus parceiros na grande coalizão governamental,  o Partido Social-Democrata (SPD). Depois de, na votação na Baviera, perder cerca de metade dos votos e ver pela primeira vez o seu percentual cair para menos 10% em uma eleição num estado federado, em Hesse ontem a sigla obteve apenas 20%, um terço a menos da votação obtida há cinco anos.
Os percentuais reavivam um antigo debate no SPD: a participação numa grande coligação prejudica o partido e retira dele a sua identidade. A sua ida para a oposição, no entanto, significaria perder espaço e ver sua influência se reduzir ainda mais.
O Globo