Com O Globo e agências internacionais
NOVA YORK - Sediados na Califórnia, uma equipe de pesquisadores especializados em armas conseguiu identificar a existência de uma instalação militar secreta do Irã que supostamente desenvolve tecnologia de mísseis de longo alcance, informou o jornal "The New York Times" nesta quarta-feira. Através da captura e análise de imagens de satélites, especialistas do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, em Monterrey, descobriram que o complexo, localizado em região desértica no Irã, poderia concentrar os trabalhos de desenvolvimento de motores de mísseis avançados e na produção de combustível para tais projetos.
De acordo com os pesquisadores californianos, o trabalho é geralmente realizado durante a noite no complexo identificado como "Shahrud", mesmo nome de uma cidade a 40 quilômetros do local. O "NYT" indica que é provável que seja fabricado apenas mísseis de médio alcance na instalação, um tipo de projétil que o Irã já possui. No entanto, as análises das estruturas e marcas no território ao redor apontam fortemente, ainda que não prove, para o desenvolvimento de tecnologia para mísseis de longo alcance, disse o jornal americano, com base nas informações dos especialistas.
O "NYT" consultou outros cinco analistas independentes que revisaram as descobertas e concordaram com a possibilidade de haver evidências convincentes sobre o desenvolvimento de mísseis de longo alcance. Entre eles, está Michael Elleman, especialista em mísseis do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos. Ele disse ao jornal nova-iorquinho que as provas são circunstanciais, mas podem indicar passos preliminares "para o desenvolvimento de um ICBM (míssil balístico intercontinental) a cinco, dez anos à frente, caso Teerã queira fazê-lo".
"A investigação destaca alguns possíveis desenvolvimentos perturbadores", indicou o especialista.
AMEAÇA MAIS PROFUNDA
Tal hipótese não viola o acordo nuclear internacional, firmado em 2015 entre Irã e o Grupo 5+1 (EUA, China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha, única a não integrar o Conselho de Segurança da ONU). O pacto tinha como objetivo conter o programa de criação de armas nucleares do Irã em troca de alívio de sanções. O pacto se limitava apenas ao arsenal atômico do país — uma das principais críticas dos Estados Unidos. O presidente americano, Donald Trump, decidiu sair do tratado, que deveria também limitar o avanço bélico iraniano, segundo o republicano.
Ainda assim, tal tipo de fortalecimento militar poderia ser uma ameaça aos europeus e, principalmente aos Estados Unidos. Caso o Irã esteja realmente conduzindo estudos para aprimorar seus mísseis, a tensão com os americanos pode se aprofundar ainda mais.
O assessor de imprensa da missão do Irã na ONU, Alireza Miryousefi, disse por e-mail que não comenta questões militares.