Ana Luísa Westphalen e Silvana Rocha, O Estado de S.Paulo
Depois de acumular forte perda de quase 9% nos últimos quatro pregões, a Bolsa iniciou uma recuperação nesta terça-feira, 29, que poderia ser ainda maior, não fosse o exterior negativo. O principal índice de ações do País chegou a subir 2% no início da tarde, mas fechou com alta de 0,95 %, aos 76.071,97 pontos. O dólar à vista oscilou ao longo do dia, terminando perto da estabilidade, negociado a R$ 3,7303, em queda de 0,08%.
Especialistas destacam que, até segunda-feira, 28, o Ibovespa caía 17% em dólar no mês, em meio aos estragos causados pela greve dos caminhoneiros. Ou seja, estava barata em dólar e atrativa para o investidor estrangeiro.
A recuperação das ações brasileiras poderia ser mais consistente se não fosse o cenário de aversão a ativos de risco que prevalece no exterior diante das incertezas políticas na Itália, que tenta formar um novo governo após o bloqueio de uma coalizão populista, e na Espanha, onde o primeiro-ministro Mariano Rajoy enfrenta uma moção de censura.
As ações da Petrobras fecharam o dia com forte alta. Os papéis ordinários subiram 12,38%, negociados a R$ 22,24, enquanto os preferenciais aumentaram 14,13%, a R$ 19,30. O movimento foi impulsionado pelas ordens de investidores estrangeiros, que voltaram ao páreo depois do feriado nos Estados Unidos. Investidores acompanharam com atenção a teleconferência do presidente da estatal, Pedro Parente. O executivo disse que é possível que a empresa tenha nova fórmula de reajuste dos combustíveis.
Operadores ponderam, no entanto, que o cenário doméstico segue desafiador, com a paralisação dos caminhoneiros expondo cada vez mais a fragilidade do governo Temer.
Na máxima da manhã, o principal índice da Bolsa chegou a retomar brevemente o patamar dos 77 mil pontos, até a marca de 77.213,65 pontos, alta de 2,47%.
"Hoje a Bolsa passa meramente por uma recuperação técnica. Basicamente o mercado vê que a reação de baixa nos últimos pregões foi um pouco exagerada à medida que a greve dos caminhoneiros fez com que muitos começassem a questionar o cenário macro de médio prazo e a dificuldade do governo de negociar. O mercado ficou nervoso e vendeu, mas chega uma hora que começa a entrar compra", explica o analista da Magliano Sérgio Goldman.
Diante da manutenção do ambiente incerto no Brasil, o profissional destaca que criou-se um questionamento sobre o cenário otimista para a Bolsa que foi traçado no início do ano. "A impressão é de que uma recuperação mais consistente da Bolsa só virá depois das eleições, a depender do resultado das urnas", pondera.
Dólar. O mercado de câmbio até iniciou o dia alinhado ao dólar forte no exterior, subindo a R$ 3,7712, alta de 1,02%, no mercado à vista. Porém, logo depois, descolou-se e passou a cair, atingindo uma mínima ante o real de R$ 3,7127, perdendo 0,55%, no fim da manhã.
A volatilidade, após três dias de altas acumuladas em 3,02%, decorre, a princípio, do ajuste à aversão ao risco no exterior que foi sucedido por um desmonte de posições de investidores estrangeiros induzido pela garantia de oferta de hedge pelo Banco Central neste fim de mês.
Para José Carlos Amado, da corretora Spinelli, dois fatores principais justificam o ajuste de baixa ante o real. "O primeiro foi o recado do BC antecipando o começo da rolagem de swap de julho, a partir desta sexta-feira 1º de junho, limitando o espaço de especulação do mercado; e o segundo é o arrefecimento do juro da T-Note 10 anos, que opera abaixo dos 3% ao ano, embora o dólar siga forte lá fora", observa.
Durante a manhã, a audiência em comissão do Senado do ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, foi monitorada, mas não pesou diretamente na precificação do dólar, de acordo com as fontes consultadas. Guardia ressaltou que "ninguém está propondo alta de tributos, mas redução de benefício fiscal", referindo-se à possibilidade de que o Senado vote já nesta terça-feira, 29, o projeto de reoneração da folha de pagamento.
Isso porque a medida, aprovada na Câmara, zerou o PIS/Cofins para o óleo diesel. Por causa da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), seria preciso encontrar uma fonte de compensação financeira para eliminar o imposto. / COLABOROU ALTAMIRO SILVA JUNIOR