O Estado de S.Paulo
A população brasileira precisa decidir se prefere pagar menos impostos ou se quer um Estado que resolva todos os seus problemas. Com essa provocação, o economista Pedro Malan, abriu o segundo painel do Fórum Estadão A Reconstrução do Brasil, um País mais amigável aos negócios, que aconteceu ontem na capital paulista.
Parte da equipe que criou o Plano Real, durante o governo Itamar Franco, Malan foi ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso e também trabalhou na reestruturação da dívida externa brasileira.
No evento de ontem, ele disse que não se pode subestimar a capacidade da população brasileira de reivindicar, ao mesmo tempo, impostos reduzidos e um governo grande. “Esse é o paradoxo, uma mistura tóxica, não resolvida, de uma população que não quer mais impostos, mas quer que o governo continue muito ativo na resolução de problemas.”
A lição que pode ser extraída do debate que tem ocorrido em torno da paralisação dos caminhoneiros, segundo Malan, é que a população está desalentada, mas continua exigindo que o governo resolva os seus problemas. Não se percebe, no entanto, que o Estado não produz recursos, que vem da tributação da geração atual, endividamento, inflação ou uso indevido de fundos de pensão.
O ex-ministro lembrou que, durante a transição do governo de Fernando Henrique Cardoso para o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, participaram desse momento o atual presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn; o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia; e o presidente da Petrobrás, Pedro Parente. “Com essa equipe continuando, poderá ter papel importante na transição para o próximo governo”, afirmou.
Antes de pensar na transição para o próximo governo, no entanto, Malan defendeu que é preciso cobrar que o tema da responsabilidade fiscal esteja presente nos discursos dos candidatos. Para ele, os políticos precisam encontrar uma forma de passar essa mensagem para outros eleitores, que não sejam “convertidos” às suas ideias e deixar claro quem eles são, com quem trabalham, “para não ter estelionato eleitoral.”
Caminhoneiros. O ex-ministro também defendeu a permanência de Pedro Parente na presidência da Petrobrás, após o desgaste dos últimos dias, com a greve dos caminhoneiros. “Nós trabalhamos juntos no governo e acho que ele faz um ótimo trabalho na Petrobrás, dado o momento delicado e tudo o que fizeram com a empresa.”
No entanto, Malan lamentou que as ações da estatal e seu valor de mercado tenham caído nos últimos dias. “Sofremos um duplo golpe, com o preço do barril do petróleo chegando muito rapidamente a US$ 80 e com a alta dos juros nos Estados Unidos, que deixa mais atrativo investir a longo prazo nos títulos americanos, levando a uma desvalorização das moedas dos emergentes”, disse.
“Com o preço elevado, em um País que importa uma grande quantidade de diesel, há uma angústia com a correção automática de preços”, acrescentou o ex-ministro, que avalia que a expectativa agora é que, com os preços no mercado internacional não subindo mais tão rapidamente e o dólar com um comportamento mais estável, a Petrobrás consiga fazer o ajuste do preço do diesel somente a cada 30 dias, com a compensação a cada fim de mês.